Relato da Miss Marijuana no Uruguai – Parte II

por Juliana M.
Ver Primeira Parte AQUI

No terceiro e ultimo dia da minha premiação de Miss Marijuana, por intermédio de Sergio Vidal, fui conhecer a Asociación de Estudios del Cannabis del Uruguay (AECU), uma associação civil sem fins lucrativos que promove auto cultivo e instruções para formação de clubes. Para associar paga-se algo como 100 pesos uruguaios por mês e uma taxa de inscrição, em contrapartida a Associação proporciona assessoria jurídica gratuita para os clubes e autocultivadores vinculados, há uma bela biblioteca disponível para os sócios, fórum de troca de experiências, por vezes palestras relacionadas à cannabis e participação no conselho.

Duas mulheres de luta, Laura Blanco e Rosina, me receberam e explicaram que cada clube pode cultivar até 99 plantas e ter no máximo 45 membros, que cada pessoa terá acesso a no máximo 480 gramas por ano e as contribuições monetárias variam em cada clube, algo em torno de 2 mil pesos por mês. Informaram ainda que o número de mulheres associadas é consideravelmente menor em relação ao numero de homens mas essa estatística vem mudando. Uma dificuldade ainda existente é sobre as genéticas das plantas cultivadas pois a importação de sementes depende de documentos de vigilância sanitária raramente disponibilizados pelos vendedores no mundo.


Tive a chance de conhecer o ganhador da ultima copa cannabis, o jardineiro do clube El piso, o primeiro clube canabico registrado legalmente no Uruguai, que relatou ter sofrido roubo de suas plantas, então decidiu a segurança de uma associação. Outros roubos de plantas cometidos pelos chamados “cogolleiros” que acabam vendendo a maconha ilegalmente foram denunciados no Uruguai, contudo espera-se que até o final de 2015 a venda legalizada aconteça e então não haverá motivos para a compra no mercado ilegal e esses ladrões ficarão sem clientela.

O Instituto de Regulación y Control del Cannabis (IRCCA) informa que cerca de 2 mil pessoas se inscreveram até agora mas pesquisas mostram que existem pelo menos 18mil pessoas que são usuárias frenquentes.

Mesmo com esses obstáculos só enxergam efeitos positivos de serem o primeiro país a ter uma lei que permite o consumo e produção de Marijuana, tanto para saúde quanto para segurança. Continuam na luta.

Foi um encontro bem importante para eu perceber quanto meu conhecimento é raso, o quanto sou conformada com a maconha paraguaia horrível que consumo, enquanto há uma imensa gama de variedades muito mais interessantes medicinalmente ou para uso recreativo.

O secretário-geral do Conselho Nacional de Drogas (JND), Milton Romani, defende novos modelos de políticas publicas para o fim da guerra as drogas no Uruguai, como modelo a ser aplicado no resto do mundo, especificamente com redução de danos. Reiterou seu compromisso sobre a venda de maconha nas farmácias ainda neste ano. Romani em uma entrevista no inicio de março, informou que um comitê cientifico consultivo composto por mais de 100 especialistas estão acompanhando o modelo regulatório e o governo está se empenhando para a concessão de licenças para as empresas que irão produzir e distribuir a maconha.

Continuando a trip…

Decidimos ficar um pouco além da premiação por nossa conta e conhecer outra parte do território uruguaio. Há cerca de 250 km de Montevideo, chegamos em Cabo Polonio, um Parque Nacional que abriga uma população litorânea com cerca de 100 pessoas.

Desembarcamos numa rua que leva o nome do ex presidente Pepe Mujica e nos deparamos com um grande mural feito para homenageá-lo que estampa um casa da vila.


Ficamos hospedados na casa do Jorge que construiu com seus próprios braços sua moradia, vive sem eletricidade com sua amiga Ana e sua filha Luana (apenas 6 crianças em idade escolar estão lá). Sem nenhum contato prévio me apresentou os espaços coletivos da casa e logo mirei na pia da cozinha seu vasinho com uma linda planta em flores.

Expliquei para ele o motivo daquela viagem e ele me contou que lá os cultivadores tem problemas com as lagartas que parecem gostar mais da planta que nós mesmos, nunca problemas com a policia, só com as lagartas; ele gentilmente me apresentou um outro morador que teve a chance usar marijuana medicinal proveniente dos Estados Unidos e desabafou que estão apenas tranquilos, pela felicidade de estarem livres em seu consumo.


Depois da despenalização do aborto, negação da redução da maioridade penal, regulamentação da maconha e casamento gay, o Uruguai segue agora um debate importante contra agrotóxicos no país….

Vale a pena ver de perto um país que ainda está em luta para que a regulamentação entre no eixo. O que parecia uma utopia agora é real, simplesmente podem plantar suas flores.

Gracias Pepe!!!

Obrigada pela hospitalidade Uruguai, espero mandar do Brasil, noticias que estamos tranqüilos também, que seja em breve.