REeDUcaÇÃO #30 – Sem laranjada, por favor!

por Guilherme Storti

E mais uma vez nos deparamos com ele. Nada de revistas sensacionalistas e linhas subjetivas, agora foi ao vivo e a cores, olho no olho! Ronaldo Laranjeiras é um sujeito peculiar e intrigante. Defensor de carteirinha das políticas higienistas, ele foi ao programa Roda Viva da TV Cultura falar um pouco sobre esse método de atenção ao usuário de drogas que foi implantado e, acreditem se quiser, ele continua achando que essa é a melhor solução para o problema do uso de drogas, a REPRESSÃO.

Usando de fontes e conhecimentos científicos muito suspeitos, Laranjeiras a todo o momento deixou claro que não estava debatendo com a bancada sob o ponto de vista científico e sim sob seu ponto de vista pessoal extremamente preconceituoso. Certas vezes até usou de deboche para responder alguns questionamentos pertinentes que lhe foram colocados.

Questionado sobre as práticas de redução de danos, Laranjeiras foi longe e disse que em nenhum lugar do mundo essa política era eficiente e que aos poucos os países que adotavam essa prática estavam abandonando-a. Um equívoco imperdoável para quem se diz tão conhecedor assim da ciência produzida acerca do uso de substâncias psicoativas.

Outro ponto bastante intrigante foram os dados apresentados por Laranjeiras como se fossem absolutos, o mesmo mencionou que no Brasil temos cerca de 1 milhão de usuários de crack, 2,5 milhões de usuários de cocaína e (pasmem) e 3,6 milhões de maconheiros! Pois é, nas contas do Laranjeiras somos apenas 3,6 milhões. Acho que ele ficaria desapontado se contássemos a ele que somos um grupo um tantinho maior que isso. Gostaria muito de verificar qual a fonte que o Laranjeiras utilizou para chegar a esses números, pois no último senso realizado pelo IBGE não tinha nenhum tipo de questionamento relacionado ao uso de drogas dos cidadãos brasileiros, logo, acredito que seja impossível se chegar a esses números e acho uma tremenda irresponsabilidade ele dar esse tipo de declaração em rede nacional, lamentável.

Além de fazer lobby para as comunidades terapêuticas, que em sua grande maioria são vinculadas a instituições religiosas, nosso amigo pouco falou do álcool e do tábaco, que são as drogas que causam o maior estrago para os cofres da saúde pública todos os anos. Laranjeiras a todo o momento tentou vincular o conceito de “drogas” ao conceito de “drogas ilícitas”, um erro bem sutil que faz toda a diferença na repercussão da informação, mas é óbvio que não passaria despercebido pelos olhos e ouvidos de nós, antiproibicionistas.

Melhor mesmo foi quando começou a se contradizer, pois afirmou com veemência que se liberassem o cultivo de maconha no país o Brasil seria um enorme “maconhal”. Aí eu me pergunto: ué, não éramos apenas 3,6 milhões? Pois é. Nem o Laranjeiras consegue sustentar o seu discurso fajuto e lobbysta, ele mesmo derruba suas afirmações.

É o tipo de debate que merece ser assistido por tod@s, para verem como o campo da política de drogas segue nas mãos de pessoas que apenas enxergam seus interesses pessoais, pois a todo momento Laranjeiras deixou muito bem claro que “drogas” é aquilo que é proibido e sequer tocou na questão da enorme quantidade de drogas que são utilizadas dentro de sua categoria médica.

Outro ponto lamentável foi afirmar que o problema das drogas se dá por causa dos “pequenos traficantes”,  informando que os mesmos são responsáveis por 98% do tráfico de drogas. Laranjeiras foi tão longe na apresentação de dados que até dados do Estado do Colarado (EUA) ele levou ao programa, estado esse que nem implantou nada até o momento e portanto não tem absolutamente nenhum tipo de dado para apresentar sobre a porposta que foi aprovada em relação ao uso recreativo e medicinal da maconha.

Enfim, Laranjeiras mais uma vez veio a público mostrar até que ponto pessoas sem ética chegam em detrimento de benefícios e ideologias pessoais. Nessas horas que eu me pergunto onde andam os conselhos de ética. Por essas e outras que o Brasil anda estagnado e com grandes chances de regredir do que progredir no âmbito da política de drogas. Enquanto os interesses pessoais estiverem misturados com política e interesses religiosos, estaremos perdidos e nos afundando cada vez mais na lama da política falida do proibicionismo.