Poema em Sete partes sobre a Proibição e essa Militância

I

a luta é longa,
exaustiva,
nos bota na mira
da lei
um treino de esquiva
corrida esportiva
entre marchas e pés
debates, blusas
campanhas
duras,
caminhada cansativa
pela liberdade
definitiva,
da cannabis sativa

 

II

e cada pena
pesa
no coração militante
pois cada prisão
é atentado coletivo
de condenação
da gente
que sente,
a liberdade entre dentes
ranger solidão
e medo
invadindo cedo
a residência
sem resistência

 

III

crime de luz
e vasos
sem vitimas, danos
ou criações de casos
mobiliza soldados
contra raízes
e flores
patrulhas perdendo tempo
aliviando
grandes contraventores
no empenho
contra jardineiros
dentistas, jornalistas
advogados ou professores

 

IV

a guerra segue
com aval do silêncio
e marasmo estatal
enquanto investimentos
inimagináveis
financiam a luta do mal
contra o mal
medidas impossíveis
e insustentáveis
disfarçam ódios
e monopólios
invioláveis
em disputa por
capital

 

V

a gente continua
dando ideia às palavras
dedicando anos a fio
a cultura milenar
tragar, soltar
e o desenho no ar
é fumaça e destino
ou façanha e desdém
por uma circunstância
injusta da lei
que nem todo país tem
então convém
desobedecer
e se libertar

 

VI

quantos de nós
poderá sonhar
em viver a legalização?
se é questão de tempo
é também de quanto, a questão
quando?
quanto tempo até quilos
não serem aquilo
a se combater
e sim o caminho
sem erro a se proceder
até aquela tão sonhada
qualidade
e sossego

 

VII

quando cada um tiver
em seu terreno
seu autossustento
o tráfico?
lamento,
não poderá contra a força
do sol, da água e do vento
e sucumbirá diante
de um quarto elemento
figurante do sonho
e do pensamento
nascente do plantar e colher
que gera, além de fruto,
sentimento