Plantas Sagradas em Perspectiva

por Fernando Beserra .:.

Entre os dias 09 e 11 de agosto de 2016 ocorreram, no Instituto de Estudos da Linguagem, na UNICAMP, as Jornadas Plantas Sagradas em Perspectiva. O evento, que contou com grande parte dos palestrantes do campo das ciências humanas e sociais, em especial da antropologia, abordou o uso ritual, terapêutico e contemporâneo de diversas plantas e substâncias sagradas. Dito em outra linguagem, o evento reuniu pesquisadores do campo dos estudos psicodélicos e enteogênicos, ao longo de 03 incríveis dias.

O evento teve um nível excepcional de debate e esteve, durante toda sua programação, com o auditório absolutamente lotado. Não é fácil encontrarmos, no Brasil, eventos sobre este tema, em especial do tamanho e importância das Jornadas. O evento foi gravado e será disponibilizado, por conseguinte, os interessados no tema devem ficar atentos à página do evento no facebook e ao site do evento: http://plantas-sagradas.net/. Cabe ressaltar o trabalho árduo dos organizadores: Beatriz Labate, Luis Fernando Tófoli, Sandra Goulart e Paulo Sérgio de Vasconcellos, que nos brindaram com este evento.

É evidente que, no cenário contemporâneo brasileiro, seria esperado que este evento tivesse a ayahuasca e seus usos religiosos como centro. O mais fantástico, na minha opinião, é que durante os três dias tive a oportunidade de escutar, além do importante debate sobre a ayahuasca, falas sobre temas tão importantes como a regulação do uso religioso do peiote; ibogaina e psicoterapia; usos terapêuticos de psicodélicos; contracultura psicodélica; história da cultura cannabica no Brasil (incluindo o debate sobre a regulação dos usos medicinais); usos tradicionais do rapé, do tabaco, do caxiri; usos terapêuticos da ayahuasca; dentre outros temas que brindaram os ouvintes. Eu também tive a oportunidade e alegria de falar neste evento, mais especificamente sobre os usos contemporâneos do badoh negro, isto é, das sementes da planta Ipomoea violácea. Para quem está acostumado a coluna Portas da Percepção, sabe que em 2016 ocorreu uma sequência de 3 textos aqui na coluna acerca deste tema e que tenho uma monografia de especialização escrita sobre este tema disponível, gratuitamente, no site do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP – http://neip.info). Já aqui no Hempadão, na coluna do alto do site vocês encontram: “Colunas” e lá o Portas da Percepção. Lá podem acessar os textos aqui na coluna escritos após a mudança do site para este domínio.

Só resta, neste momento, esperarmos o contagio destes debates no Brasil e que tenhamos outros eventos para que continuemos a avançar no debate. Em um contexto político obscuro, que se encontra manifesto no Brasil atual, não se pode temer os infortúnios. O Brasil já conseguiu uma regulação incrível da ayahuasca e pode dar passos ainda maiores se não recuarmos em nossos debates. Momentos de crise podem conduzir a retrocessos, mas também produzir uma força radical de enfrentamento que nos permita ir até mesmo além da onde havíamos parado. Mas para que isso ocorra é preciso que continuemos trocando informações e afetos, histórias de vida, de resistência e de amor à transformação.