Páscoa Psicodélica à Vista

por Thalita Vieira

Abrindo as portas de Abril e em preparação para a semana de páscoa, nada mais justo que incrementar algumas ideias com um toque psicodélico. Aqui, vamos filosofar um pouco, já que hoje essa é uma preocupação um tanto remota em um mundo tão direcionado ao consumo ou com pessoas cada vez mais distantes acerca do pensamento.

Sabe-se que o uso de psicodélicos é mantido pelo homem há milhares de anos. Em uma publicação recente de estudos arqueológicos, o artigo publicado pelo Time and Mind: The Journal of Archaeology, Consciousness and Culture, intitulado: “Substâncias Psicoativas Em Tempos Pré-históricos: Examinando as Evidências Arqueológicas”, aborda exatamente esse assunto, o que confirma inexistência da possibilidade de essas substâncias serem banidos do nosso mundo, e vale a pena dar uma conferida!

Ainda nessa sequência, podemos ir além, pensando como não somente o uso dos psicodélicos está associado aos nossos ancestrais, mas como ele está enraizado em nossas filosofias atuais, na essência humana. Muito da produção intelectual, seja científica ou artística foi desenvolvido a partir das descobertas e utilização dessas drogas que tem sido feitas pelo homem desde sempre, como já mostrado aqui no Portas da Percepção. Venho então trazer na roda (se não o mais) um dos cogumelos mais antigos utilizados pelo homem: o Amanita muscaria, os ovos de Páscoa psicodélicos!

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Para quem não sabe, esse cogumelo também conhecido como agário-das-moscas (pois seu sumo “atordoa as moscas”) é originário da Eurásia. O Amanita m., utilizado pelos xamãs nórdicos em cultos religiosos, povos chineses e índios norte–americanos, tem sim suas influências nas crenças contemporâneas. Houve um tempo em que o homem era mais pensador e nesse tempo, sem dúvida ele já usava o Amanita. Foi nesse tempo, que ele olhou para o céu e para as estrelas e buscou respostas levantando questionamentos até hoje não respondidos, como os eventos naturais do mundo e da mente humana. Assim, criou mecanismos como calendários e mitos para justificar sua própria existência e maneiras de registrar seus progressos. Com o tempo, foi percebendo também que através de certas “chaves” naturais poderia alcançar novos níveis de compreensão além do mundo físico que o rodeava, para o seu interior.

O Amanita é rodeado de referências que o homem criou como mecanismos de identificação, o que mostra sua participação na busca das questões humanas. Além da produção de clássicos complexos e subversivos como a obra de Lewis Carrol “Alice no País das Maravilhas”, na qual uma verdadeira viagem filosófica é experimentada pelo leitor, diversas literaturas sugerem a importância dos cogumelos para o desenvolvimento do indivíduo, uma importância relevante! Falando em Páscoa, essa que conhecemos hoje tão comemorada e famosa não somente pela veiculação da mídia, que sempre nos está empurrando para o consumo a fim de movimentar o capital esperado, nem sempre foi assim. Na astrologia (e não é Astronomia) o significado do coelho branco e dos famosos ovos de páscoa tem mais a ver com fenômenos celestes e cogumelos mágicos do que com chocolate ou a páscoa cristã propriamente dita – uma celebração que, por sinal, foi definida como está hoje no ano de 325, no Concílio de Niceia. Seja com a celebração da libertação judaica (do termo “pessach” que significa “passagem”) ou da renovação cristã, é nessa época que ocorre o ritual em diversas sociedades e que tem em comum a visão da necessidade do homem elevar seu espírito.

E os cogumelos? Bom, na simbologia e sem detalhar muito exatamente esse aspecto, os vermelhinhos, que também possuem as cores de Vênus – vermelho e branco – mas podem ser amarelos ou alaranjados, são considerados exatamente por ter a função de “aumentar o espírito” humano proporcionando a experiência psicodélica transformadora. São a eles que remetem os ovos de páscoa coloridos escondidos no bosque, e que junto ao coelho ilustrado por Carrol, levam ao mundo do desconhecido.

Através de suas substâncias com propriedades alucinógenas, o muscimol e ácido ibotênico – e que (ainda) não estão na lista de substâncias de uso proscrito pela Anvisa no Brasil –, ambos estimulam os receptores do neurotransmissor GABA no sistema nervoso central. “Cogumelos frescos contêm o ácido ibotênico, que tem efeito sobre o sistema nervoso, sendo os cogumelos secos muito mais potentes. Isso ocorre porque o ácido ibotêmico, com a secagem, é degradado em mucinol, após descarboxilação, sendo 5 a 10 vezes mais psicoativo. Cogumelos secos são capazes de manter sua potência por 5 a 11 anos. Geralmente, a secagem aumenta a potência das substâncias psicoativas das plantas de poder e isto, certamente, serve para os cactos também.”

Não há como não alertar para os efeitos adversos, pois esse lindo cogumelo, assim como quaisquer maravilhas da natureza pode apresentar perigo e ser confundidos com outras espécies venenosas, o que muitas vezes são a causa de mortes por intoxicação. Podem fazer mal quando erroneamente administrado e até ser letal se consumido em excessivamente. Portanto, para que isso não aconteça, não se pode subestimar a experiência! Uma alternativa sempre utilizada é a de aguardar a experiência acontecer e tomar aos poucos, doses em doses controladas, uma vez que isso minimiza os erros tornando a viagem muito mais segura. É muito interessante nos conectarmos com nossa história e aprofundarmos e nossa mente através desses portais, mas se não houver consciência, não há evolução.

A manutenção dessas chaves é o que nos interessa hoje. Após passar tantos anos junto à humanidade colaborando com o nosso autoconhecimento e reflexão, o Amanita é uma via interessante para quem foge dos laboratórios desacreditados. Hoje, sabemos como é difícil conhecer um psicodélico sem realmente saber dos riscos, não por estarem na ilegalidade, mas por convivermos com uma realidade em que simplesmente não há o controle verdadeiro. Por isso precisamos do esclarecimento. Seguem tabela referencial de consumo aproximado por pessoa, disponível com mais detalhes no Erowid. E uma boa Páscoa psicodélica a todos!

Referências:

Diehl, Cordeiro, Laranjeira e cohls. Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. pg212.

http://www.mind-surf.net/drogas/amanitamuscaria.html
https://www.erowid.org/plants/amanitas/amanitas_dose.shtml
http://www.megastrologia.com/2013/03/pascoa-e-astrologia.html
http://amagiadossereswebearts.blogspot.com.br/2015/03/plantas-de-poder.html
http://aborigine42.blogspot.com.br/2011/12/alice-no-pais-das-maravilhas-os.html
https://danirossi.wordpress.com/astrologia/o-verdadeiro-significado-da-pascoa/