O ‘xerife do Rio’, que fazia Campanha anti-maconha, desviava Dinheiro público

por Tales Henrique Coelho

O “xerife do Rio de Janeiro”, que se orgulhava da criação de programas como o Choque de Ordem e o recolhimento compulsório de usuários de crack, e tem como principal mote de campanha para deputado federal neste ano o combate às drogas, está no centro de um dos maiores escândalos de corrupção nos últimos tempos no Rio.

 

Rodrigo Bethlem, deputado federal e braço direito do prefeito do Rio Eduardo Paes, desviava recursos de contratos da Secretaria Municipal de Assistência Social para o seu próprio bolso. A revelação foi feita por sua ex-mulher, que gravou conversas onde o deputado afirma, com todas as letras, receber em torno de R$ 80 mil por mês da ONG Casa Espírita Tesloo, contratada pela prefeitura para fazer “tratamento” de moradores de rua usuários de crack. Em apenas um ano, a prefeitura pagou R$ 40 milhões à ONG.

Em seu twitter, Bethlem comemorava a criação do acolhimento compulsório, em que a prefeitura pagava nada menos que 28 mil reais por cada jovem “acolhido”.

Denúncias antigas

Para quem acompanha o cotidiano da política do Rio, no entanto, isso não foi exatamente uma novidade. As gravações serviram para deixar claras denúncias que já são feitas há anos.  No início de 2013, o vereador Renato Cinco protocolou um pedido de instalação de uma CPI para investigar os contratos de Bethlem, baseado num relatório do Tribunal de Contas que indicava irregularidades na parceria.

Antes disso, em 2012, a Comissão de Direitos Humanos e o Conselho de Psicologia mostraram as condições dramáticas dos chamados abrigos de “acolhimento” dos usuários de crack. Funcionando como verdadeiros depósitos humanos, nada ali parecia voltado para o tratamento. A parceria foi condenada por psicólogos, assistentes sociais e outros especialistas, mas nada mudou.

Além disso, também em 2012, jornais mostraram que a ONG era comandada por um policial envolvido com grupos de extermínio e milícias. Esta, alíás, não foi a primeira vez em que Bethlem esteve envolvido com os paramilitares: ele já foi testemunha de defesa de milicianos, e tinha como subsecretário um ex-policial preso por tráfico de armas.

O proibicionismo mata

Graças ao discurso criminalizante contra os “cracudos” (muitas vezes repetido por maconheiros, mas isso é assunto para outro dia), Bethlem construiu uma poderosa e lucrativa máquina de remoção dos “indesejáveis”. Isso sob aplausos de grande parte da opinião pública, sempre simpática à repressão aos pobres travestida de “luta contra as drogas”.

Enquanto psicólogos e assistentes sociais insistiam que o caminho para o problema do crack era outro, como a ampliação dos consultórios de rua, por exemplo, a prefeitura do Rio insistia na lógica da repressão. Graças à ex-mulher do ‘Xerife’, hoje temos nas mãos um grande exemplo de como o discurso proibicionista costuma esconder interesses escusos.

Se você é contra a proibição das drogas, tem a obrigação de conhecer este caso e fazer cada vez mais gente ficar sabendo (até porque o assunto já está sendo abafado pela mídia tradicional).

É um exemplo emblemático de como a “guerra às drogas” esconde interesses escusos e muito lucrativos. Da produção ao tratamento de dependentes químicos, passando pela repressão e o tráfico de armas, há uma cadeia gigantesca de gente poderosa que deseja que tudo continue como está.

Que outras ex-mulheres revoltadas surjam para derrubar mais “Xerifes” antidrogas em todo o mundo!