Nova Carta do Ras Geraldinho – O Horror da Prisão!

Publicado no blog Memórias do Cárcere

rasIperó, 17 de novembro de 2013

Que o poder e a força de Jah, nosso Pai Todo-Poderoso, ilumine e proteja nossos caminhos.

Quinze meses de ostensiva repressão do Judiciário Paulista.

Esta semana passamos 2 dias trancados na cela sem nenhuma explicação do sistema carcerário.

Uma cela mínima, com espaço para 3 homens, e estamos em 8 homens…

Eu me pergunto: por que tanta crueldade do sistema?

Não temos espaço para sequer esticar as pernas. Sinto dores. Todos nós sentimos dores, mas a única medicação que o Sistema distribui são os ansiolíticos e calmantes. Quem os toma, acorda no dia seguinte grogues, como se estivessem com ressaca. Acho que eles nos querem todos mortos.

No domingo, dia de visitas, o dia amanheceu chuvoso e o clima da cadeia extremamente depressivo. Não é para menos: trezentos e cinquenta homens se apertam debaixo da pequena marquise em frente à galeria de celas.

A água fria da chuva gela o coração dos condenados do Raio Um da Penitenciária Odon Ramos Maranhão, de Iperó-SP.

O espaço que normalmente já é apertado, torna-se insuportável com a água que cai na quadra, obrigando todos a se entulhar embaixo da mínima proteção.

Alguns, não suportando a pressão, saem andando pela quadra debaixo de chuva mesmo.

Com o passar das horas, a chuva vai amainando e a quadra começa a ser ocupada num frenético caminhar para lugar nenhum.

Um irmão que passa faz uma comparação pertinente, dizendo que “a 25 de março voltou a funcionar”, num paralelo com a movimentadíssima rua comercial da cidade de São Paulo.

Para os condenados que não recebem visitas, o dia fica maior que a semana.

As conversas vão se avolumando, assemelhando-se a um mantra, desconexo e barulhento.