No Brasil, ‘violência’ é um conceito relativo

por Tales Henrique Coelho

Nunca se viu algo tão terrível. Cenas de selvageria em plena Avenida Copacabana! São tantos assaltos que a ‘população de bem’ resolveu reagir!.

“Porrada nesses filhos da puta! Encurtem as linhas de ônibus! Maldito direito de ir e vir, deixem a PM prender todos no meio do caminho! A justiça só protege bandido, tem que matar!” – É o pensamento quase unânime na zona sul carioca.

2 de abril de 2015: Policiais da UPP do Complexo do Alemão guiam PMs do Bope pelas vielas da favela. Em uma delas, vêem um menino de 10 anos brincando com o celular.

“Parecia uma arma”, justificou o PM que disparou o tiro de fuzil matou Eduardo de Jesus, um estudioso filho de imigrantes do interior do Brasil.

No fim, tudo na mesma. Favela é lugar de bandido, de guerra. Mais um “caso isolado” na conta da PM. Mais uma criança morta e um soldado queimado como judas, e fim de papo.

13 de agosto de 2015: Após mortes de PM e GCM, homens encapuzados fazem chacina nas cidades de Barueri e Osasco, matando 18 pessoas. Os assassinos procuravam quem tinha passagem pela polícia. Teve gente até que defendeu. A Corregedoria está investigando.

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Mais de um mês depois: um suspeito preso.

A diferença da repercussão – não só na imprensa, mas nos elevadores, filas de banco, botecos – de casos como o arrastão em Copacabana em relação às várias chacinas nas periferias Brasil afora é um sintoma evidente do que falamos sempre:

Existem “violências” e “seguranças” diferentes.

Roubos na praia viram a maior pauta do debate público da segunda maior cidade do Brasil. Nenhuma dúvida de que o próximo final de semana de sol será também de operação militar nas praias para garantir a “tranquilidade”.

Já em outras regiões, a violência que vem em cenas de guerra e matança é tolerada. Afinal, ali ela faz parte de uma verdadeira “Guerra” (às drogas, não se esqueçam), que precisa ser vencida a todo custo.

No Brasil existem pessoas ‘matáveis’.

Poucos conseguem ver além, enxergar que a morte na favela e o roubo na praia são partes de um mesmo e gigantesco problema.

Preferem continuar repetindo o mesmo roteiro, desde pelo menos os anos 1980.  Assista: