Modulações de sentidos na experiência psicodélica

por Fernando Beserra .:.

Amanhã, dia 15 de julho de 2016, às 19 horas, haverá o lançamento do livro Modulações de Sentidos na Experiência Psicodélica do psicólogo e músico Sandro Rodrigues, doutor em psicologia pela UFF e prof. de psicologia na Universidade CEUMA em São Luís/MA. O vereador Renato Cinco (PSOL-RJ) receberá Sandro Rodrigues para o lançamento no Espaço Plínio de Arruda Sampaio na Lapa – Rio de Janeiro-RJ. Ainda haverá um debate no lançamento com o Sandro e com a minha presença. Após, iremos aproveitar o som do DJ Danilo, com muito rock psicodélico.

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O livro de Sandro é um dos grandes avanços na literatura brasileira contemporânea sobre substâncias psicodélicas. Baseado em sua tese de doutorado, o livro se embrinca em progressistas tecnologias de cuidado no campo da saúde mental e da redução de danos. É inovador no debate da medicalização, tão em voga nos dias atuais. Sandro consegue, a partir das pesquisas dos grupos de autogestão da medicação (GAM), avançar no debate sobre os lugares e papeis constituídos na prescrição e uso fármacos psicotrópicos, sem ser contrário às drogas-medicamento. Neste sentido, a intervenção do GAM é uma aposta radical que catalisa a autonomia e o protagonismo dos usuários dos serviços de saúde mental. Tal perspectiva ancora-se no debate, tão presente no estudo das drogas tornadas ilícitas, do set e do setting. O uso de drogas não é o uso de qualquer droga, tampouco um uso qualquer da droga. Qualquer uso de drogas: seja terapêutico, lúdico ou religioso, será atravessado pelo set e pelo ambiente no qual a substância é ingerida. O lugar da equipe de saúde mental é essencial no fomento da reflexão acerca deste consumo e não no reforço da mudez diante do prescrito.

Curiosamente, no campo das reflexões da Reforma da Saúde Mental, surge firme o debate psicodélico. As modulações catalisadas na experiência psicodélica e seus potenciais de transformação. Um histórico excitante do uso de fármacos psicodélicos na contracultura, da descoberta do LSD, passando por Timothy Leary até o Rock Psicodélico. Estas substâncias tão potentes misturam-se a um campo contracultural de forma a nos fazerem questionar as velhas máximas proibicionistas: “a droga é uma droga”. Neste surf pelo caos, no campo da articulação de potenciais, encontramos vida nas experiências terapêuticas com psicodélicos e no confronto direto de uma política de proibição violentadora e sanguinária. Em contraposição, a emergência da Associação Psicodélica do Brasil e os campos de resistência apresentadas por Sandro, acompanham a emergência de uma imagem arquetípica de liberdade. Como um psicopompo o livro do Sandro é capaz de atravessar múltiplas dimensões e eu julgo que este é seu grande mérito.

Na defesa da liberdade de ação e pensamento, o livro expira e inspira a resistência e catalisa a criação de novos mundos. São ritmos de luta e poesia que soam e abatem estruturas de poder perversas, fomentando as potências escondidas e criando som em locais nos quais haviam poucas e tímidas vozes.