Mataram o ‘chefão’ da vez. Que diferença faz?

por Tales Henrique

Na tarde do último sábado, o traficante mais procurado do momento no Rio de Janeiro foi morto em uma megaoperação que envolveu as polícias Federal, Civil e Militar. Foram 100 homens, helicópteros, uma suposta troca de tiros e o ‘chefão’ está morto. O governador comemora, grande parte da sociedade bate palma.

Mas, na real, que diferença significativa isso faz na segurança do Rio?

A quadrilha do Playboy, uma das que mais roubava cargas no Rio, segundo a polícia, vai sentir o baque. Até uma nova liderança assumir, reorganizar tudo, voltar a pagar a mesada das autoridades, e pronto.

No “grosso” da violência, do tráfico, dos tiroteios, continua tudo na mesma.

A narrativa da “segurança” no Brasil, e em especial no Rio, é a mesma há décadas.

Matam ou prendem o ‘chefão’ da vez, comemoram, a classe média aplaude e tudo continua como está.

Quando se trata de guerra às drogas, o poder implacável da polícia costuma parar nos Playboys da vida. 

Quase nunca investigam como deveriam os policiais corruptos, a rede que se beneficia dos milhões vendidos pelos traficantes armados do varejo…

Aliás, já surgem sérios indícios de que a mote do traficante, e não sua prisão, foi na verdade uma queima de arquivo. Os indícios são muitos.

Playboy já havia dado entrevistas para a revista Veja, para o Afrorregae. Insinuava a propina paga regularmente aos policiais, e deixava claro que sabia que não seria preso, mas assassinado.

O tio dele levantou a suspeita. E, agora, um áudio de um suposto policial federal vaza indicando exatamente isso: foi execução, e o cara só não era preso porque tinha muita gente na folha de pagamento. A gravação, cheia de termos técnicos e detalhes, tem todo o jeito de ser verdadeira.

A morte do playboy só fará alguma diferença se, no estilo Lava Jato, continuarem puxando o fio dessa história mais e mais. Mas isso eu duvido muito.