Maldita rotina

por S. M. Hermes

“Todos os indivíduos, sem exceção, desde a base até o topo da escala social, agrupam em torno de si todo um mundinho de interesses, com seus turbilhões e átomos vorazes, como os mundos de Descartes. Mas esses mundos continuam se ampliando à medida que sobem. É um espiral invertida, em equilíbrio instável.” – Alexandre Dumas, em O Conde de Monte Cristo (1844).

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Foi-se um mês sem escrever pra coluna, antigamente semanal, que há um ano e meio tenho feito pro nosso glorioso Hempadão. Quiçá um novo recorde. Então, antes de mais nada, peço mil perdões por tamanho desleixo. Prometo retomar — se não à velha forma e periodicidade, outra melhor ainda. Agora sem mais delongas, vamos ao que interessa: ou não, tudo depende.

Depois da ‘Brisa do Mar!’, teve a ‘Brisa da Serra!’. Fomos eu, Ankova Ximbra e nosso filho canídeo, o famoso Eltinho, passar uns dias em Nova Petrópolis, que fica na Serra gaúcha. Ficamos hospedados num chalé holístico, bem topzera mesmo. Altas natureza em volta, umas cachoeira, umas montanha, umas estrada roots. Em suma, o famigerado e perfeito no stress.

Ainda se tratando do segmento viagens, nesse carnaval rolou um acampamento em São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra gaúcha. Mais precisamente na Toca da Onça, outro pico que mereçe o status de “bem topzera mesmo”. Pelo caminho que fizemos, dava 30 quilômetros de estrava sem pavimentação, o famoso chão batido, desde o asfalto até a Toca.

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Tenho anotado diversas pautas aleatórias ao longo desse um mês que marquei ausência garantida no Hempadão. Hoje mesmo duas delas me vieram ao cerebelo, inclusive as anotei. Agora, porém, no exato momento em que dedico um tempo a escrever, percebo que esqueci o papel no trabalho. Acontece, e muito. É a vida, e a sequela. E às vezes serve até de inspiração, pois tudo pode, né?

Igual ou parecido com a memória, o tempo também é um negócio bem louco. Quanto menos temos, mais rápido ele se esvai. Durante nossa passagem por esse plano, essa é uma das relatividades dele. Quanto mais perto do final, o pavio queima cada vez mais rápido. É o que dizem, é o que parece.

Além das variadas alucinações de realidade que os moldes da sociedade são capazes de nos proporcionar. Basta observar pra perceber o fino véu da Matrix encobrindo e ressignificando tudo e todos que se dispõem, e até quem não o faz. Esse seria mais um tópico pro segmento viagens — risos. Arrivederci, au revoir, auf wiedersehen, até mais ver.

“O que caracteriza uma civilização? Será o gênio excepcional? Não; é a vida rotineira… Hum! Sejamos justos com o espírito. Concedamos que é acima de tudo a arte, e, em primeiro lugar, a literatura.” – Pierre Boulle, em Planeta dos