Maconha, Porta de Entrada ou Mito ?

por Jean Lefebvre

Quem hoje fuma maconha amanhã estará cheirando cocaína.”Essa afirmação é comum tanto em programas de TV e debates políticos quanto em salas de espera e mesas de botequim. Trata-se de um dos mitos mais populares do mundo, que acabou virando “verdade” de tanto ser repetido”. Não colabore com a sua perpetuação. A verdade é que a maioria dos usuários de maconha nunca experimentou e nem vai experimentar outra droga ilícita.

O que leva à conclusão equivocada de que um simples baseado abre o caminho mais curto para outras drogas é a hierarquia natural da experimentação. Raramente alguém usa cocaína pela primeira vez sem jamais ter provado alguma bebida alcoólica ou um cigarro comum de tabaco. No entanto, álcool e nicotina nunca foram tachados de “porta de entrada” para substâncias mais pesadas. Se você pensar bem, faz sentido que a primeira droga ilícita usada por uma pessoa seja a maconha, pois ela é a mais barata e disponível. Mas pode acreditar: não existe nada num baseado que estimule o usuário a procurar drogas mais fortes em seguida.

 

“Estudos indicam que mais da metade dos consumidores de maconha não usa outras drogas e faz uso apenas esporádico da erva”, afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A maioria consome a droga só de vez em quando, e 90% acabam por abandoná-la um dia.”

Legalizar ou não?

A legalização da maconha na Holanda, há mais de 30 anos, também produziu resultados que depõem contra a tese da “porta de entrada”. Ao transferir a venda da erva para estabelecimentos conhecidos e fiscalizados (os coffee shops), o governo holandês afastou o consumidor dos traficantes – esses, sim, os grandes incentivadores do consumo de outras drogas, como cocaína e heroína, cujo comércio é muito mais rentável. Resultado: o número de jovens usuários de maconha continuou o mesmo de sempre, mas o de drogas pesadas diminuiu – prova de que a Cannabis não necessariamente leva a outros entorpecentes. Retirar a droga das mãos dos traficantes significa golpear a capacidade financeira do tráfico.

Segundo a dupla de pesquisadores americanos Robert MacCoun e Peter Reuter, autores do livro Drug War Heresies (“Heresias da Guerra Contra as Drogas”, sem edição no Brasil), a Holanda hoje é um dos 10 países europeus com menor número de usuários de heroína. Um alívio, pelo menos para quem frequentou o topo da lista nos anos 70.

É preciso hoje admitir que legalizar é regular, não “liberar geral”. Ao contrário, é criar regras claras, com idade mínima para consumo, informação sobre a qualidade do produto e seus riscos, além de restrição de locais de uso , como já se faz com o cigarro. O objetivo é educar para a prevenção, desestimulando o consumo por adolescentes e oferecendo tratamento aos dependentes.

É importante lembrar, também, que 20 estados americanos já aprovaram a maconha para uso medicinal e está mais do que provado seu poder terapêutico para tratar a esclerose múltipla, as náuseas provocadas pela quimioterapia ou a falta de apetite dos indivíduos portadores do vírus HIV.

Devemos reconhecer que todas as drogas podem causar mal, principalmente quando usadas de forma abusiva. A responsabilidade do poder público é tratar a questão das drogas como tema de saúde e reduzir os danos do uso problemático de drogas. De qualquer droga, a começar pelo álcool que é uma droga lícita.

A maconha, além de tudo, pode ser também a porta de saida para as drogas! Existem diversos relatos de pessoas que eram viciadas em crack, cocaína, cigarro e álcool, que conseguiram se livrar do seu vício com a ajuda da cannabis, e não se pode culpar um ser humano por experimentar algo diferente, a curiosidade e necessidade de alterar a consciência, para alguns, é muito grande.