O cânhamo, feito com as fibras da cannabis, é uma excelente matéria-prima para fabricação de tecidos, papel e pode substituir até o concreto
por João Henriques
O colapso ambiental deixou de ser um problema para o futuro. Esta geração e nossos filhos vão sentir, nas próximas décadas, as consequências de um modelo de desenvolvimento predatório. A adoção de um modo de vida menos consumista e baseado em novas fontes de energia é urgente e demanda um pacto global. Os maconheiros também precisam colaborar.
Maconha não serve apenas para fazer baseados ou remédios. O cânhamo, feito a partir das fibras da cannabis, não possui efeito psicoativo, mas é uma excelente matéria-prima para fabricação de tecidos, papel e pode substituir até concreto na construção civil.
Na indústria têxtil, o cânhamo pode ser uma boa alternativa para domínio do algodão neste setor. Do ponto de vista ambiental, esta pode ser uma das mudanças mais importantes, já que a transformação do algodão em roupa ocorre com um impacto bem pesado para a natureza.
Trata-se do cultivo que mais demanda uso de agrotóxicos. Cerca de 24% de todos os inseticidas e 11% de todo os pesticidas são utilizados no cultivo do algodão. Na fabricação de uma simples camiseta são consumidos mais de 2.700 litros de água.
O cultivo de maconha para utilização industrial pode ser feito de forma mais sustentável, sem toda esta carga de agrotóxicos e com menor consumo de água. Além disso, o cânhamo é até 5 vezes mais resistente que o algodão. Com ele, ganhamos roupas mais resistentes e duráveis. Menos lixo para castigar o meio ambiente.
Um novo papel
Não se engane com verde de uma grande plantação de eucalipto na margem de uma rodovia. É o “deserto verde” de uma planta que não é nativa do Brasil, que castiga a biodiversidade e a fauna local.
Mais uma vez a maconha surge como alternativa sustentável. O cultivo de cânhamo pode render quatro vezes mais papel que o eucalipto, utilizado o mesmo espaço e sem causar tanto prejuízo à vida silvestre.
Por tudo isso, não causa surpresa o envolvimento da indústria do papel e do algodão (em parceria com o setor farmacêutico) no apoio às propostas de criminalização da cannabis que ganharam força no início do século 20. A maconha era um concorrente que ameaçava o domínio destes grupos empresariais, o que justifica o investimento pesado para colocar esta poderosa planta na ilegalidade.
Maconheiro com consciência ecológica
A proibição levou o cultivo de maconha para dentro de estufas e ambientes fechados. Para imitar a luz do sol é comum a utilização de lâmpadas HPS. Para aliviar o calor do ambiente fechado e com lâmpadas poderosas acesas na maior parte do dia, principalmente no verão brasileiro, é recomendado a utilização de ar-condicionado ligado 24 horas.
*** publicado originalmente na Carta Capital
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