Maconha para beber

publicado originalmente na Carta Capital

Quem não gosta de inalar fumaça sempre teve a opção de comer a erva. Não in natura, claro. Mas devidamente aquecida e preparada junto a alguma gordura como manteiga, leite ou azeite, já que os canabinóides são lipossolúveis. Com esses ingredientes ativados é possível fazer qualquer receita que os inclua. Ou seja, praticamente qualquer receita.

Ultimamente tem surgido novas formas de se usar, fumar e ingerir cannabis. E aqueles que nunca se imaginaram com um baseado entre os dedos podem agora experimentar a erva de uma forma que jamais pensaram fazer: sim, que tal beber maconha?

Essa semana nada mais nada menos que a gigante Coca-Cola anunciou que estuda a possibilidade de usar um composto da cannabis em um novo refrigerante. “A empresa está acompanhando de perto o crescimento do CBD como ingrediente em bebidas que funcionam proporcionando bem-estar em todo o mundo”, disse Kent Landers, o porta-voz da empresa, em comunicado à Bloomberg News.

Segundo ele, a empresa monitora a indústria canábica e já mantem negociações com a gigante produtora de maconha canadense Aurora Cannabis.

O CDB, canabidiol, é conhecido como composto não psicoativo, porém de uso medicinal, presente na erva. Efeitos relacionados ao seu uso incluem relaxamento, capacidade antioxidante, anti-inflamatória e anticonvulsivante.

Como beber refrigerantes é um hábito cada vez mais em baixa na sociedade atual, o que se vê claramente é um movimento de busca por inovação e reformulação do produto. Quem sabe no futuro vamos ver nas prateleiras ao invés de Coca, uma tal Canna-Cola?

Cerveja de Maconha:

A iniciativa da Coca foi inovadora pois promete colocar no mercado um refrigerante de Cannabis. Mas as fabricantes de cerveja, mercado mais afetado com as políticas de legalização da planta, já mexem suas engrenagens para alcançar o rótulo perfeito – que englobe o sabor da cerva com o efeito da erva – há mais tempo.

No mês passado, por exemplo, a Constellation Brands, produtora da cerveja Corona, anunciou que vai desembolsar US$ 3,8 bilhões para investir e aumentar sua participação na Canopy Growth, uma gigante do mercado canadense que tem valor de mercado avaliado em cerca de 10 bilhões de dólares.

Outros fabricantes, como a Molson Coors Brewing, também sondam indústrias da maconha do Canadá para produzir bebidas com maconha por lá. Já a Diageo, que produz a cerveja Guinness, também segue em negociações com pelo menos três produtoras canadenses.

Enquanto isso, a Lagunitas, empresa responsável por parte da produção da Heineken, também já lançou uma marca especializada em bebidas não alcoólicas, mas com THC ativo.

Água com Maconha:

A repórter Tamara Pridgett escreveu para o portal PopSugar como foi sua experiência ao passar uma semana trocando a ingestão de água normal por água com CBD. Segundo ela, “não precisa se preocupar, pois o CBD não é psicoativo, o que significa que não vai alterar sua função cerebral e te deixar chapado. Eu bebi a CBD Living Water, que tem 2.5 miligramas de CBD por garrafa”, explicou.

De acordo com o relato, a água com maconha é suave e com zero sabor residual relativo à erva. A ponto de não ter como diferenciar uma água dessas de outra normal, caso a garrafa estivesse sem rótulo.

A repórter não notou nenhum efeito mental nem algo que mudasse sua rotina no transporte público, no treino da academia ou nos afazeres domésticos. A única diferença notada foi “uma noite de sono incrível após beber água de CBD. Pode não ser uma relação direta, mas é algo a se levar em conta, já que eu quase nunca durmo bem”, afirmou ela.

Já no Reino Unido o supermercado Holland & Barrett já disponibilizou em suas prateleiras água infundida com CBD. A Love Hemp Water contém 2 miligramas do composto e ganhou espaço no mercado este ano.

No entanto nem todo mundo endossa o uso de CBD pela água como sendo realmente medicinal. Especialistas britânicos esperam que essas invenções sejam usadas como suplementos e não para tratar alguma condição médica.

Vinho de Maconha:

Depois de passarem dois anos pesquisando uma forma ideal para combinar cannabis ao vinho, um grupo de amigos conseguiu lançar, na Califórnia, em 2015, o Cannawine. O produto está disponível no mercado a partir de 120 dólares por garrafa.

Em nota oficial no site da empresa, eles apresentam o CannaWine como uma “combinação de novas sensações, criatividade, inovação e sabores reais. É um produto ousado e pioneiro que combina o melhor da indústria de fabricação de vinho com a exuberância da cannabis”, avaliam.

O site contém também as informações precisas da concentração de cada ingrediente presente no produto: “Vinho aromatizado com extrato de maconha, com 14,5% de teor alcoólico. São usadas 50% de uvas garnacha e 50% de cariñena. Cada frasco contém 50mg de extrato de maconha”, em garrafas de meio litro que, segundo o fabricante, são melhores servidas geladas.

Voltando a Realidade:

Por aqui, onde o setor de bebidas alcoólicas ocupa o topo do pódio das grandes empresas e riquezas, a ideia ainda não tem como ir a frente. O Brasil, mais uma vez, deixa escapar a chance de se projetar no campo das inovações para se esconder no buraco do atraso.

Sendo assim, as drogas que em países desenvolvidos se misturam, aqui são vistas separadas, pelas leis e pelos bons costumes. A bebida alcoólica continua sendo patrocinadora do esporte e da novela, enquanto a maconha ‘patrocina’ o tráfico de drogas e a explosão carcerária de jovens, pobres e negros.

Nesse ritmo, quando as leis brasileiras estiverem aptas para liberar esses tipos de produtos nas lojas daqui, ao invés de estarmos prontos para produzir e exportar bebidas com maconha para o mundo, teremos que, mais uma vez, ocupar o lugar de importadores. Mas… quem se importa?