Maconha Medicinal–Uma Realidade cada vez mais Próxima?! [Portas da Percepção 210#]

por Fernando Beserra

 

Pessoal, bons ventos estão chegando. Hão de chegar.

maconha-medicinal-7Hoje estava no meu trabalho e ao falar um pouco com um médico que trabalha comigo sobre meu mestrado, conversava sobre as pesquisas que tenho feito sobre os psiquedélicos, enquanto ele falava também sobre suas pesquisas e expectativas. Então, eis que ele puxa da sua mochila e me dá um texto que estava lendo, constatando a grande coincidência ou sincronicidade como podemos entender a luz da psicologia complexa do psicólogo suíço Carl Gustav Jung:

Medical Use of Marijuana do The England Journal of Medicine. O artigo, que poderemos fazer uma discussão no próximo Portas, trás uma discussão muito interessante com um “caso vinheta” de uma mulher de 68 anos com câncer de mama metastático para os pulmões, coluna torácica e lombar. A mulher reportava baixa energia, mínimo apetite e dor substancial na coluna. Tinha náusea e estava fazendo quimioterapia. O artigo faz uma série de perguntas aos médicos tais como: “Como médico, qual conselho você daria acerca do uso de maconha para aliviar os sintomas? Você acredita nos benefícios gerais do uso médico da maconha sobre seus potenciais riscos e danos?

O artigo trás duas visões, uma favorável e outra não ao uso da maconha em seu estado natural.. mas isso também é um outro assunto. O assunto de hoje aqui no Portas é a importância do debate público, neste caso, particularmente nos meios acadêmicos sobre a regulamentação dos usos terapêuticos não apenas da maconha, mas de outros psiquedélicos e enteógenos, a exemplo do debate do uso terapêutico e psicoterapêutico dos cogumelos que contém psilocibina, do ayahuasca, das sementes com LSA.

O debate ainda se torna mais complexo quando entramos na questão do uso de medicamentos da tradição da medicina alopática com seu rigor de pureza dos efeitos das substâncias contra a ideia mais fitoterápica do uso das plantas em seu estado natural, considerando a segurança histórica constatada por usos milenares. Afinal, o único efeito das plantas pode ser limitado a uns poucos princípios ativos? (p.ex, no caso da maconha do Delta 9-THC e do CBD ou na verdade é resultado de uma complexa teia de relações??).

De qualquer modo, sintético ou naturalista, o debate vai ganhando corpo. O avanço depende da mobilização política de usuários e não usuários, mas também, neste caso, depende de pesquisadores de peso na academia que sustentem as discussões e mais do que isso as levem a público, enfrentando o ostracismo anti-científico. Como citado por Michael Bostwick no artigo já comentado, mesmo nos EUA onde a maconha medicinal avança exponencialmente, os médicos ainda tem que enfrentar a ambigüidade legal (lei federal x estaduais) e os problemas para pesquisa gerados pela convenções internacionais que em 1970 inseriram a maconha na terrível “Schedule I” sobre o Ato de Substâncias Controladas, que indica de forma totalmente incoerente e anti-científica que a maconha teria um “alto potencial de abuso e falta de valor médico”.

 

 

Mas a meta da maconha para uso médico é clara! O foco neste caso deveria ser no uso terapêutico. É verdade que os usos terapêuticos podem contribuir para discussão da descriminalização e mesmo da legalização, entretanto, creio que não seja producente para a medicina estas propagandas negativas colocadas na mídia de médicos dando receitas de maconha a qualquer um e por qualquer problema. Isso pode ser positivo para o usuário que está lá tendo que fumar um prensado e prejudicando sua saúde por este uso, mas para o campo de pesquisas médicas dos usos da maconha, não creio que seja tão positivo, pois estes “sensacionalistas midiáticos” tem apenas a intenção de reforçar estereótipos e ir contra qualquer amostra dos benefícios efetivamente terapêuticos da maconha.

É isso galera, vamos continuar o debate. Aqui no Brasil temos o Dr. Carlini, junto com vários pesquisadores de peso, que tem defendido com argumentos muito bem embasados sobre a maconha medicinal.

Eu defendo sem dúvidas este avanço no campo da medicina. Entretanto, é sempre bom sinalizar: uso medicinal da maconha deve ser para pessoas que estejam doentes, com sintomatologia específica e não para todos.

Mas, se me perguntarem: e os outros usuários, que não tem problemas de saúde, continuam a sofrer pela proibição?

Não… não… a estes erga-se a bandeira da legalização da maconha!