Documento da Contracultura: “Lei contra maconha é Imoral”

Quando o jornal The Times, em 1967, publicou um anúncio dizendo que a lei contra maconha é imoral e desfuncional

No dia 24 de Julho de 1967 um anúncio de página inteira foi publicado no jornal britânico The Times, assinado por 64 membros proeminentes da sociedade à época, pedindo a legalização da maconha. Entre os signatários estavam os integrantes dos Beatles e o empresário da banda, Brian Epstein.

O anúncio carregava uma carta com 11 parágrafos de defesa à liberdade individual de se portar e fumar a erva. O título destaca o que a militância antiproibicionista não cansa de repetir: “A lei conta a maconha é imoral em princípio e não funciona na prática”, ou seja, os caras já avisavam isso há 50 anos.

Anúncio original da época

A carta foi escrita como forma de resposta à sentença de nove meses de prisão por posse de maconha concedida a John Hopkins, no dia 01 de junho de 1967. No dia seguinte, uma reunião emergencial foi convocada na livraria Indica Bookshop, quando o responsável por uma organização sobre drogas sugeriu a ideia do anúncio de página cheia no jornal.

Paul McCartney topou prontamente financiar a ideia

Eles concordaram em recolher as assinaturas, mas a parte financeira de quem iria arcar com os custos da publicação ainda era um problema. Nenhum dos músicos dos Beatles estava presente, mas um dos sócios da livraria ligou para Paul McCartney que topou prontamente financiar a ideia, fazendo questão somente de que o apoio não fosse divulgado. Trato não cumprido.

A publicação foi paga adiantada, em cheque nominal e custou a bagatela de mil e oitocentas libras. Além de longa argumentação, a carta também conta com uma parte de opinião médica, onde sete especialistas dão declarações a favor do uso da erva, inclusive comparando-a com o álcool.

Pontos importantes

Logo no começo do documento, os signatários sugerem mudanças em cinco pontos no programa da reforma de leis sobre maconha:

  1.  O governo deveria permitir e encorajar pesquisas com cannabis em todos os seus aspectos, inclusive aplicações medicinais;
  2. Permitir que fumar maconha em locais privados não constitua uma ofensa;
  3. A cannabis deve ser retirada da lista de drogas perigosas e controladas;
  4. A posse de maconha deve ser permitida ou no máximo considerada uma contravenção;
  5. Todas as pessoas aprisionadas por posse ou por terem fumado maconha devem ter suas sentenças anuladas.

Levando em conta que isso não aconteceu até hoje e que os movimentos modernos pela legalização levantam exatamente essa mesma bandeira, acho que podemos considerar que essa galera representa uma tremenda vanguarda no assunto. Mandaram bem. Semanas após a publicação, a chamada Câmara dos Comuns tornou público o debate e iniciou um processo de flexibilização em relação à maconha no Reino Unido, algo que acontece até hoje, sem que a legalização plena ainda tenha sido alcançada.

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Texto publicado originalmente na HEMPADA#03