Legalizada, maconha movimenta mercado bilionário nos Estados Unidos

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Enquanto no Brasil o futuro da maconha ainda está apenas no plano das discussões governamentais e da pauta de alguns candidatos ao Palácio do Planalto, nos Estados Unidos, onde 10 estados permitem o uso recreativo da droga e 20 regulamentaram o uso medicinal, a indústria cresce de forma acelerada e alcança cifras bilionárias.

Fonte: Estado de Minas

Relatório divulgado ontem pela instituição financeira RBC Capital Markets, dos EUA, mostra que as vendas legais de cannabis entre os americanos está perto de alcançar as mesmas cifras das bebidas destiladas e do vinho e podem chegar a US$ 47 bilhões na próxima década.

Segundo Nik Modi, analista responsável pelo relatório da instituição financeira, a previsão é que esse mercado cresça a uma taxa expressiva nos próximos anos. “Nos Estados Unidos, a categoria legalizada de Cannabis deverá crescer 17% CAGR (taxa composta de crescimento anual) na próxima década, para até US$ 47 bilhões em vendas anuais”, escreveu.

O relatório faz um comparativo com outras grandes indústrias e lembra que o mercado de destilados hoje é de cerca de US$ 58 bilhões. O de vinhos é um pouco maior, está em US$ 65 bilhões. Já a indústria da cerveja está na casa dos US$ 117 bilhões. Entre vendas legais e ilegais, a estimativa para o mercado da Cannabis alcança os US$ 50 bilhões, aponta a RBC, sem especificar qual é a participação de cada canal.
O movimento da cervejaria Constellation Brands, dona da marca Corona, que acaba de colocar US$ 4 bilhões na canadense Canopy Growth – maior empresa de maconha de capital aberto – foi destacado pelo banco de investimento.
O relatório elogiou a aproximação entre a empresa de bebidas e a gigante da área da maconha. “Achamos que esse é exatamente o tipo de movimento que mais empresas deveriam fazer (não necessariamente em maconha, mas tendo a visão de investir em fluxos de receita futuros, especialmente em um momento em que o core business apresenta boa performance)”, apontou Modi.
A Canopy Growth, que tem entre seus investidores o rapper Snoopy Dogg, também tem negócios no Brasil, por meio da associação com a Entourage Phytolab, para o desenvolvimento de produtos medicinais à base de Cannabis para os mercados brasileiro e internacional. O acordo envolve ainda a canadense Bedrocan, resultando na criação da Bedrocan Brasil S.A., voltada à importação de diferentes tipos de Cannabis para o Brasil.
Para o banco de investimento, o aumento sequencial da participação da Constellation na Canopy é o tipo de estratégia ganha-ganha. As ações da Canopy Growth –  que também é dona das marcas Tweed Inc e Spectrum Cannabis (de medicamentos) – subiram desde que a Constellation anunciou que aumentaria sua participação no capital da empresa. Só nesta semana, o papel teve uma alta de cerca de 38%.
Mas nem tudo é calmaria nesse mercado, já que novas regulamentações podem causar efeitos negativos não só nos Estados Unidos, mas em outros mercados.
Apesar dessa ressalva sobre restrições regulatórias, a RBC descarta que haja motivo para preocupação, já que, segundo a instituição financeira, 83% dos americanos defendem que haja algum tipo de uso legal de maconha.
“Acreditamos que a descriminalização da maconha nos Estados Unidos, inclusive para uso recreativo, é muito provável ao longo do tempo”, apontou o relatório. “Em última análise, começa com os eleitores norte-americanos que apoiam a legalização da maconha.”

Aposta alta da cervejaria

No último dia 15, a Constelation Brands, um dos maiores grupos cervejeiros dos EUA, avaliado em US$ 38 bilhões, anunciou o investimento de US$ 4 bilhões na Canopy Growth. A aposta é não apenas no potencial de crescimento do uso da Cannabis em diferentes produtos, como produtos de beleza e medicamentos, mas também em vários tipos de bebidas. Hoje, a Constelation tem em seu portfólio marcas como Corona, Modelo e Pacifico, além de vinhos, vodcas e tequilas.

A primeira compra de participação na Canopy Growth aconteceu em outubro, quando a cervejaria adquiriu 9,9% das ações. Por meio de nota, Rob Sands, principal executivo da Constellation Brands, informou que a companhia canadense foi escolhida para ser a parceira global exclusiva para a maconha. A expectativa, é claro, é de que a maconha seja liberada nos próximos anos no mercado americano nos diferentes níveis governamentais, e não apenas em alguns estados.
Hoje, Uruguai e Geórgia são os dois países que legalizaram totalmente o produto. O Canadá deve seguir na mesma direção a partir de outubro, mas por enquanto só permite o uso para fins medicinais.
Cannabis encosta nas bebidas alcoólicas
Vendas atuais no mercado dos
Estados Unidos (em US$ bilhões)

  • Mercado legal e ilegal de maconha    *50
  • Destilados    58
  • Vinho    65
  • Cigarro    77
  • Cerveja    117

*Estimativa
Fonte: RBC Capital Markets/BDS Analytics