Invasão Colombiana – Hempada #01

Não é “mimimi” dizer que o maconheiro brasileiro sofre. Além da perseguição policial e do preconceito de boa parte da sociedade, fumamos uma maconha de péssima qualidade.

Felizmente, o monopólio daquele prensado paraguaio que alimenta as bocas de fumo do Sul e Sudeste do país e que é vendido mofado está com os dias contados.  Quem vive nessas regiões, provavelmente já experimentou ou ouviu falar da erva colombiana, que chegou com qualidade superior e já está fazendo a cabeça de muita gente.

O colombiano está longe de ser aquela maconha de Amsterdam, mas deixa o prensado apenas como uma amarga lembrança. A aparência é de uma erva levemente compactada, sendo possível identificar as flores da cannabis. O gosto também é superior, mas o preço ainda assusta muitos maconheiros: com sorte e bons contatos é possível pagar, no varejo, 15 reais no grama. Quem experimenta e curte a onda provavelmente fica tentado a gastar um pouco mais para fumar um produto de melhor qualidade.

A novidade não é tão nova assim. Fontes ouvidas pela Hempada afirmam que a invasão colombiana começou há cerca de quatro anos, mas foi no verão de 2017 que a erva da terra de Pablo Escobar conquistou uma fatia maior do mercado, aparecendo em diversas bocas de fumo das favelas.

Nesse período, o preço da erva colombiana vendida no Brasil também foi reduzido. No início, se pagava até 35 reais pelo grama, que foi descendo até chegar ao preço atual, algo em torno de 7 a 10 reais por baseado.

A logística do colombiano ainda não é tão bem estruturada como a montada para trazer o prensado paraguaio até o Brasil. As fontes que entrevistamos revelaram que boa parte do que vem da Colômbia ainda chega no tráfico de “formiguinha”, entrando pelos Estados da região Norte do país.

Vale destacar que a viagem pela região amazônica não conta com a ampla rede de rodovias do Sul e Sudeste, o que acaba dificultando o transporte e encarecendo o preço do produto nas bocas de fumo dos centros urbanos. No Rio de Janeiro, a favela campeã no comércio do colombiano chega a vender mais de 50kg por semana.

A péssima qualidade do prensado paraguaio que foi vendido nos últimos meses (pelo menos no Rio de Janeiro) aumentou ainda mais o interesse dos maconheiros pela erva colombiana. Reza a lenda que os produtores paraguaios estão atentos à ofensiva da concorrência e devem lançar um produto de melhor qualidade nos próximos meses.

Apesar da melhora da maconha oferecida no mercado negro de drogas do Brasil, ainda fumamos um produto de qualidade duvidosa. Só sabemos que vem da Colômbia, mas desconhecemos a técnica de cultivo, colheita, secagem e sobre o uso de agrotóxicos na lavoura.

Para mudar este cenário não existe fórmula mágica: só a legalização da maconha será capaz de oferecer em quantidade suficiente para atender todo mercado consumidor uma erva de qualidade e com opções de diferentes strains, óleos e alimentos.

Só com a legalização é possível criar um comércio para atender à demanda de pacientes que buscam realizar o uso medicinal da maconha e, em alguns casos, não estão interessados no efeito chapante da cannabis. Só a legalização pode criar um mercado não violento e que interrompa este ciclo cruel, que joga nas cadeias milhares de pessoas que apenas venderam algo para alguém que queria comprar.

*** Texto publicado originalmente na revista Hempada #01, em maio de 2017:

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