Intervenção condenada ao fracasso

A intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro é mais uma das soluções mágicas condenadas ao fracasso antes mesmo de começar. Não se trata aqui de uma torcida contra o sucesso da estratégia do Vampirão que ocupa o Palácio do Planalto, mas uma reflexão sobre mais uma ofensiva bélica da guerra às drogas que governantes insistem em apostar.

A questão da segurança é complexa, mas existe um elemento que pode ser analisado de forma mais simples. Se nada mudar na política de drogas proibicionista, não vai ter General ou tanque de guerra capaz de promover a paz.

Ciente deste fato, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso criticou mais uma vez as ofensivas que ignoram a incapacidade do Estado em vencer a guerra às drogas. Durante palestra no Rio de Janeiro, Barroso apontou a ineficácia de prender jovens acusados de tráfico.

“No dia seguinte à sua detenção, o jovem já foi substituído pelo tráfico, já que há um exército de garotos igualmente pobres para entrar no seu lugar. A insanidade dessa política fica evidente. A vida desse rapaz foi destruída, o que custou dinheiro da sociedade. Uma política impensada e sem sentido”, constatou Barroso.

A bola de neve da violência alimentada pela manutenção da guerra às drogas também cria, segundo Barroso, uma ilusão na sociedade que olha para o “traficante” como o grande provedor do mal nas cidades.

“Boa parte da sociedade brasileira tem duas aflições: violência e corrupção. No entanto, mais da metade dos internos do sistema prisional brasileiro não estão presos nem por uma coisa, nem por outra, mas pelo porte de pequena quantidade de drogas. Dos jovens encarcerados por tráfico, 74% são primários, com bons antecedentes. E o que acontece? Preso por volta dos 18, 20 anos, esse jovem com bons antecedentes pode se tornar perigoso a partir do dia em que entra na prisão, quando passa a dever para a facção do seu bairro, da qual a sua família vira refém. Quando sair da prisão, anos depois, vai estar bem pior”, analisou o Ministro.