História da Chegada da Maconha no Brasil

É difícil desvendar a origem de uma planta. Afinal de contas, não há registro, nem sequer testemunhas ou documentos que possam afirmar quando exatamente foi a chegada da maconha por aqui. Na edição zero dessa fanzine especializada na erva, não podíamos deixar escapar a chance de tentar entender como, de onde e quando a cannabis atravessou o Atlântico e desembarcou no Brasil. Que viagem… literalmente.

Existem duas origens catalogadas. Uma diz que a maconha veio da Europa, outra diz que veio da África. E então, qual delas está certa? A resposta correta, por mais doido que seja, é: as duas.

Maconha da Europa

Quando os portugueses imbicaram suas caravelas rumo ao Brasil, carregavam no barco inúmeros produtos derivados da maconha. Velas, cordas, roupas e muitos acessórios mais. A época que a gente chama de Descobrimento, na história de Portugal eles classificam como “Expansão”. Trata-se do auge da soberania náutica portuguesa e a maconha – o cânhamo – estava lá como personagem fundamental nessa trama.

Isso não é papo de doidão, não. E nem foram os portugueses que inventaram a prática. Os gregos e os romanos há muitos anos antes de cristo já usavam o cânhamo para cordas e velas de suas embarcações. Mas foi só no século XV que o cultivo da planta começou ser ostensivo e completamente voltado para a produção não só do cordame, mas também inovações como tecnologias de vedação dos navios, o que impulsionou a prática das longas navegações.

Para se ter ideia, o barco comandado por Cristóvão Colombo, em 1496, tinha pelo menos 80 toneladas de cânhamo. O de Cabral não era diferente. Ou seja, a maconha realmente chegou  aqui por conta do europeu. E o europeu só chegou aqui por conta da maconha, quer dizer, do cânhamo e seus implementos na indústria naval.

Para se ter ideia da importância do cultivo de cânhamo durante o Império, basta analisar a citação de Don João VI, em 1656: “O cultivo de cânhamo é mandatório quer as terras sejam minhas, ou de particulares a quem eu as tenha dado”, ou seja, era obrigatório destinar uma parte do jardim à esse tal variedade de cannabis.

De acordo com o livro História da Maconha no Brasil, “em 1772, o vice-rei Marquês do Lavradio, tentou incentivar a sua cultura no Sul do Brasil, mandando para lá um entendido em seu cultivo e umas tantas sacas de sementes”. Uma década mais tarde seria instalada a primeira Real Feitoria do Linho Cânhamo no Brasil. Segundo Jean Marcel, autor do livro citado, o empreendimento não chegou a ter muitos bons resultados, mas funcionou até depois da proclamação da Independência.

E agora que já mapeamos como o cânhamo chegou até aqui, está na hora de saber em que momento da história a maconha começou a virar fumaça em território nacional. E aí é que a coisa fica preta, ou seja, fica boa.

Maconha da África

Durante muito tempo da história do Brasil a maconha foi chamada de “Fumo da Angola”. Além disso, diversas vezes esteve atrelada a culturas afrodescendentes seja em encontros religiosos de umbanda e candomblé ou em momentos recreativos como rodas de capoeira. A prova desse atrelamento é que o departamento de polícia que reprimia o uso da cannabis era a mesma que vigiava os hábitos da cultura negra. Era a Delegacia de Costumes, Tóxicos e Mistificações, criada em 1934, no Rio de Janeiro.

Há também registros que no início do século passado a maconha era vendida em farmácias com o nome de Cigarros Índios. Mas isso não comprava que erva seja uma cultura típica daqui, pois a relação entre negos e nativos se deu desde a colonização.

A tese mais aceita e divulgada é que os negros teriam trazido sementes de maconha quando eram trazidos para cá. Mas há quem duvide disso. O antropólogo Luiz Mott, por exemplo, defende que “os escravos eram presos e carregados nus, o que tornaria dificultado o transporte de sementes, já que nem seus pertences eram trazidos”, retrata o Grande Livro da Cannabis.

É difícil saber… mas a mais difundida e aceita teoria é explicação do diplomata Pio Correa, que diz “as sementes terem chagado aqui dentro de bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas”, segundo o livro Diamba Saramamba.

>>> Texto publicado originalmente na HEMPADA #00

Folha 1 Frente.fw