Guerra às Drogas ou às Minorias?

por Nessa Bruxinha

Uma discussão na página da rede Quebrando o Tabu, me pôs a pensar se estou ficando louca. Não consigo aceitar que as pessoas ainda julgam o usuário como “mandante” dos crimes em relação ao tráfico.

Na página encontra-se um vídeo de uma palestra realizada em São Paulo, com o corte para a determinada pergunta: “o usuário de drogas pode ser responsabilizado pela violência na Guerra às Drogas?”

Ela, a palestrante, diz que o uso de drogas só é crime porque é proibido, porque escolhemos criminalizá-la e que a Guerra às Drogas é, na verdade, uma ferramenta para manter os sistemas de racismo estrutural.

Ela é Deborah Peterson Small, formada em direito pela Universidade de Harvard e foi diretora para assuntos legais da New York Civil Liberties Union. Mais tarde, Deborah se tornou diretora de políticas públicas e articulação comunitária pela Drug Policy Alliance. Há quase uma década, ela criou a organização Break the Chains, cujo objetivo é alertar os impactos da guerra às drogas na população negra. Deborah Small é nome central na discussão sobre racismo e política de drogas nos EUA e no mundo.

No vídeo ela ainda fala: “Se isso fosse realmente uma Guerra às Drogas, a polícia mataria traficantes em bairros ricos. Iria atrás dos banqueiros que lavam esse dinheiro. E iria atrás dos seus próprios membros que oferecem proteção aos traficantes. Então não. Não podemos culpar usuários de drogas pelo fato de que há um genocídio negro no Brasil.”

Pois bem. O que me deixou pensativa mesmo não foi o vídeo, mas a quantidade de comentários contrários à fala de Deborah. Concordo com ela em partes. Acredito que sim, o problema das drogas vai além de seus usuários, mas não podemos nos isentar, e de uma certa forma, infelizmente, alimentamos sim o tráfico. Mas por favor, daí a nos culpar pelas mortes e armas existentes no tráfico é um pouco demais para mim. É o mesmo que dizer que ir à farmácia e comprar um analgésico contribui para os males patológicos no mundo. Ou que quem paga imposto financia a corrupção, e que usuários de smartphone são responsáveis pelo trabalho infantil de congoleses e chineses.

Alguns comentários me fizeram pensar: Estou mesmo louca??? É isso mesmo que estou lendo? Frases do tipo: “Da proibição nasce o tráfico? Aaah claro,vamos legalizar o assassinato?! Daí as pessoas param de matar! Vamos legalizar o roubo e o furto também?! Quanta besteira.

Oi??? Comparar o uso RECREATIVO das drogas com o uso HEDIONDO de uma arma (seja branca ou de fogo) é no mínimo sem lógica.

Outra: “O Tráfico não vai parar, De Clientes a Facções tem milhões …” Conte-me mais sobre a Lei Seca que não existe mais e sobre como foi benéfica a proibição naquela época. Al Capone pode ajudar a esclarecer essa afirmação. O tráfico pode até não parar, mas vai diminuir consideravelmente.
Mais uma: “Se ninguém consumir ninguém vende simples assim.” Putz!!! Ok! Tudo bem! E se não proibir não há crime. Simples assim.

Assim, o resumo dos contra sobre a legalização é: parem de usar.
“Usuário bom é usuário morto” estavam nas entrelinhas.

Acho engraçado as pessoas culparem o usuário porque ele compra, e esquece de culpar a si próprio por tamanha ignorância. Por trás de suas roupas de marca, das baladas regadas a muito álcool e no uso de seus celulares potentes existe um mundo de crimes dos quais se isentam por usarem “produtos legais”. Enquanto isso, nós, os “criminosos” aguardamos ansiosos por um mundo com menos armas, mais educação e muita LIBERDADE pra dentro da cabeça.