Governador do Colorado reconhece sucesso da legalização da maconha

Em 2012, o governador do Colorado, John Hickenlooper, fazia oposição ao projeto de legalização da maconha que estava em debate no estado.

O tempo passou e o político do partido democrata teve a humildade de assumir que estava errado. Apesar de ainda se manifestar contrário a legalização, ele admite que a política de drogas no estado melhorou com a legalização. Confira abaixo a entrevista John Hickenlooper ao jornal O Globo.

O senhor se posicionou contra a legalização da maconha num primeiro momento. Depois de quatro anos desde o plebiscito houve uma mudança de opinião?

Acho que tivemos um grande progresso. Ainda não sou a favor, mas não sou mais tão contra. Acredito que nos próximos dois ou três anos veremos se podemos fazer este trabalho e acho que nós podemos. Ninguém quer entrar em conflito com a lei federal (aos olhos do governo americano, a maconha, assim como outras drogas, ainda é considerada ilegal), nem criar toda uma nova forma de regulamentar. Mas, ao mesmo tempo, o antigo sistema era muito ruim: não havia recursos, havia criminosos. Não queremos uma lei que ninguém obedeça, é ruim para a sociedade. Então, isso nos permite ter leis que as pessoas possam obedecer de novo.

Quanto de dinheiro em impostos esse mercado gera para os cofres públicos por ano e o onde o Estado o aplica?

Arrecadamos por ano uma quantia um pouco superior a U$ 120 milhões e tentamos empregar o dinheiro estritamente para lidar com os problemas inerentes à legalização da maconha. São U$ 15 milhões por ano. Gastamos muito dinheiro fazendo propaganda para mostrar aos jovens que não é seguro fazer isso com menos de 21 anos: quase todos os neurocientistas acreditam que o THC (princípio psicoativo da maconha) muito forte pode interromper o crescimento do cérebro e favorecer a perda de partes da memória de longo prazo, mesmo usando apenas uma vez por semana.

Uma pesquisa recente mostra que o consumo de maconha entre estudantes do ensino médio no Colorado é menor do que a taxa nacional. O que acha disso?

Prova que tivemos um bom começo. E queremos continuar incentivando isso e mostrar que o antigo sistema era muito ruim. Qualquer criança que quisesse maconha conseguia porque traficantes não ligam para quem eles estão vendendo. Então, se você consegue se livrar dos traficantes de maconha, torna mais difícil que crianças consigam ter acesso a ela e esse é um dos objetivos.

Houve uma diminuição nos índices de criminalidade desde a legalização?

Nós vemos uma ligeira diminuição. Nos últimos oito anos no Colorado a posse de maconha não é mais crime, e sim contravenção. Por isso, não temos visto grande diminuição nos crimes, mas certamente, estamos menos sujeitos a lidar com o tráfico ilegal de maconha.

Essa mudança impactou no turismo ? Houve um aumento de pessoas visitando o Colorado?

O turismo no Colorado tem crescido por dez anos. Não vimos um pico quando legalizamos a maconha. Sabemos que muita maconha é vendida nas áreas de turismo no Colorado, então claramente pessoas que vão ao estado passar férias compram maconha, mas elas não parecem vir com mais frequência por causa da legalização.

E quanto aos acidentes de trânsito? Vocês fazem um controle das pessoas que dirigem após usar a droga?

Estabelecemos um limite de 5 nanogramas que poderá ser verificado no exame de sangue e, ao usar mais que isso o tratamento é o mesmo dispensado a quem consume álcool antes de dirigir: as penas são muito severas.

O senhor daria algum conselho para países que estão pensando em legalizar a maconha?

Eu digo para os governadores dos outros estados que esperem um ou dois anos. Acho que nesse prazo teremos um melhor entendimento sobre esse assunto. Se eles me perguntassem dois anos atrás eu diria: não façam isso. Mas eu mudei.