Estudante da UFRJ é encontrado morto no campus: Delegado acredita em crime de Homofobia!

imageDifícil escrever um texto quando não há palavras pra descrever o sentimento de injustiça e impotência diante dos fatos. A polícia vai investigar o caso, mas é desolador lembrar que apenas uma mínima parte dos casos de homicídio acabam em prisão no Brasil. E mesmo que os agressores sejam presos, não há como transpor o que já se perdeu: um dos nossos morreu.

Diego era estudante de Arquitetura na UFRJ, pobre, negro, gay, paraense, militante, maconheiro, artista. Alvo demais? Pra uma sociedade doente e cada dia mais fascista.

Ele era morador do alojamento da própria faculdade. Saiu para praticar corrida no campus às 10 da manhã e acabou sendo agredido até a morte. Segundo matéria do O Globo, “foi encontrado perto da água suja, sem calça, sem documento, com marcas de espancamento em todo o corpo”, e se você ainda não entendeu o que cada um de nós temos a ver com isso, então essa é a hora de encarar o problema de frente.

A assinatura do e-mail pode ser forjada, pois evidentemente ninguém confirma a emissão deste comunicado, mas o fato é que se ele foi escrito então representa o pensamento de alguém. E se chegou a ser enviado quer dizer que de fato o ódio moveu ações contra as minorias citadas. Estão na mira os bolsistas, os usuários de drogas ilícitas, os “esquerdistas”, os homossexuais e etc:
 

As forças conservadoras estão mais vivas que nunca. Se em algum tempo da história do homem, no século passado, a palavra liberdade teve um valor mágico, capaz de mover toda uma contracultura de “paz e amor”, agora a palavra “liberal” parece ser pivô de uma guinada medonha, onde só a intolerância tem sua vez.

Diego já vinha sofrendo ameaças e sendo vitima de perseguições dentro do alojamento. Antes de mudar de curso frequentou a faculdade de letras e era frequentador do ambiente denominado “Amister”, onde cheguei a conhecê-lo. Poderia ser alguém que eu nunca vi na vida, a indignação seria igual, mas a morte de alguém com quem você já compartilhou a brisa é capaz de cortar aniquilar qualquer vibe.

Hoje os olhos dos amigos e familiares estão vermelhos de lágrimas. As mãos enxugam o rosto com pulsos serrados de raiva. A noite se foi. A morte, em plena luz do dia, numa das maiores universidades do país, passeia. Enquanto isso o que parece incomodar o grupo UFRJ Liberal são adesivos de maconha na parede:

Assassinatos e sequestros estão rolando e a denúncia é contra o uso de maconha no campus?! Entendi.

Ninguém é contra que a segurança seja ampliada e, se necessário for, que uma delegacia da polícia federal seja instaurada no campus. Mas caso isso aconteça seria extremamente pertinente que a força policial fosse usada contra criminosos, não contra o hábito de estudantes, professores e outros funcionários de usar sua erva.

Até parece que o dono da página não sabe que a maconha só é comprada através de facções criminosas porque não há outro meio de obtenção. O tráfico existe por causa da proibição. E quem bate na tecla de que existe por causa do uso, só pode estar maluco: pois é evidente que o uso em si não geraria tráfico se a venda fosse legalizada. Basta ver como funciona não na “amister”, mas em Amsterdam.

Parece que parte desse tal movimento “liberal” quer mesmo é liberar o ódio contra as minorias. Não estamos acusando nenhum dos grupos citados pela morte do Diego, mas que são sinais de tempos de intolerância isso não há dúvidas.

Nós defendemos mudanças radicais na polícia militar brasileira. Um dos motivos é para que usuários de drogas deixem de sofrer perseguição e o trabalho da corporação possa se voltar contra verdadeiros criminosos como são os responsáveis por esse brutal assassinato. O próprio delegado responsável pelo caso já afirmou que pode sim se tratar de um crime de ódio: “Uma das linhas de investigação mais consistentes e mais fortes indicam que ele foi morto por crime de homofobia”, disse Fábio Cardoso.

Após a morte os e-mails de ameaças contra alunos que circulavam anonimamente começaram a receber mais atenção. Um mais recente, datado de 11 de maio deste ano, dizia claramente que jovens “de esquerda” e pertencentes a grupos minoritários estavam sob vigilância total do “infiltrados”, que estariam em todos os lugares e agiriam sob anonimato. O teor é de fundamentalismo atroz:

Docentes da universidade se manifestaram pelo facebook sobre o caso. A professora da Letras, Georgina Martins, abriu críticas preconceito com opções sexuais: “Acordei hoje com meu filho chorando por conta dessa notícia horrível: um aluno da UFRJ, morador do alojamento, foi brutalmente assassinado dentro do campus por causa da sua orientação sexual. Ele foi morto à pauladas, ontem, dentro da Cidade Universitária, onde trabalhamos, estudamos e várias pessoas moram. Estou triste e com muito medo. Meu filho é gay, seus amigos são gays e circulam como deve ser, pelo campus do Fundão, todos os dias”, desabafou na web.

Nós… maconheiros e/ou representantes de cada um das minorias atacadas, também somos muitos, também estamos em todos os lugares e também somos unidos. Mais um de nós morreu. Mas a resistência que nos mantem vivos não morrerá jamais. Diego descansou de uma vida repleta de dificuldades, e desejamos que siga seu caminho de luz em paz: estado de espírito que os autores desse crime não atingirão jamais. Jamais.