Este empreendedor quer ter a Amazon da indústria da maconha

São Paulo – O jovem capitão da Marinha Aeron Sullivan tinha uma grande missão em 2012: impedir que piratas da Somália transportassem drogas para o grupo terrorista Al Qaeda. Seu batalhão, com a cooperação dos governos regionais, apreendia os traficantes e queimava todas as drogas.

Fonte: Exame.com

Porém, quando sua missão terminou e Sullivan voltou para sua base, na Califórnia, viu uma mudança econômica nos Estados Unidos: em outro estado, o Colorado, o mercado legal de maconha estava a todo vapor.

Nessa hora, e lembrando de todos os esquemas ilegais que teve de repreender, o capitão pensou: por que não criar uma forma mais profissional de lojas e produtores comprarem e venderem maconha entre si, sem o estigma de vendedores obscuros e de negociações demoradas?

Esse foi o começo da história do Tradiv: uma plataforma que intermedeia a compra e venda de maconha, apenas com negócios licenciados. Sua missão, segundo a própria startup, é fazer a venda de cannabis no atacado mais eficiente, fácil e segura.

O Tradiv tem menos de um ano de negócio realmente operando e já gerou dezenas de milhões de dólares em vendas legais de maconha. A plataforma possui mais de 230 membros atualmente: desde estabelecimentos até pessoas que plantam a droga na própria casa.

O começo do negócio

Após passar dois anos fazendo um MBA online, Sullivan decidiu sair da Marinha americana. Já no dia seguinte à sua demissão, voou para o Colorado e foi trabalhar em seu negócio na aceleradora CanopyBoulder, voltada especificamente para negócios relacionados com maconha.

Sullivan se uniu a outro empreendedor, Geoff Doran, para construir uma futura “Amazon da indústria da maconha”. Em abril de 2015, o Tradiv recebeu um investimento-anjo de 3,4 milhões de dólares. Com esse impulso, o negócio pode finalmente ser inaugurado, em outubro do mesmo ano.

O site opera a qualquer momento, o que evita as tradicionais longas ligações e as dúvidas sobre se o produto possui, de fato, qualidade – já que o Tradiv só atua com empresas licenciadas.

Após o pedido de uma certa quantidade de maconha, o produtor embala a encomenda e um entregador do Tradiv pega a encomenda no local, levando-a para o comprador em um prazo que varia de um a três dias. Por enquanto, o negócio opera apenas no Colorado.

Benefícios

O site Inc. explica por que o Tradiv é um benefício para os lojistas e produtores. No modelo tradicional, funciona assim: o produtor, logo após a colheita, precisa achar um comprador rápido. Ele geralmente já possui uma carteira de compradores e começa a ligar, mandar mensagens de texto ou conversar pelo Facebook até conseguir achar um interessado. Caso ele não tenha essa rede de relacionamentos, precisa achar um intermediador do ramo (chamado “pot broker”), que busca um comprador em troca de uma parte dos lucros.

Com a solidificação do mercado da maconha, diz o site, esses produtores precisarão expandir para além desses contatos: buscarão uma plataforma centralizadora para vender sua grande produção, como a própria Amazon. E é aí que o Tradiv entra.

“O sistema de brokers [intermediadores] é como a maconha vem sendo negociada desde a década de 30”, conta Sullivan ao Inc. Funciona bem com mercados informais, porque minimiza o contato entre produtores, distribuidores e varejistas, mas não é bom para um negócio escalável.”

Grande crescimento (e dificuldades)

Já no primeiro mês de operação, 40 mil dólares de maconha foram vendidos por meio da plataforma. Depois disso, o crescimento foi cada vez maior: o Tradiv terminou o ano com uma quantidade de maconha equivalente a 4,5 milhões de dólares.

A startup fatura como a própria Amazon faz: cobrando uma porcentagem em cima do valor da transação, que varia de 4% a 10%. O valor médio das compras e vendas é de 15 mil dólares, segundo Sullivan.

Porém, inspirar-se em um modelo de negócio não quer dizer que o Tradiv não tenha seus próprios problemas. Também segundo o Inc., há duas dificuldades para a startup: viabilizar pagamentos online e impedir a grande volatilidade do preço da maconha.

A maioria dos agentes dessa indústria paga em dinheiro vivo na entrega ou com cheques. Para integrar os pagamentos ao universo digital, o Tradiv está tentando uma parceria com um sistema de software para auditar companhias de maconha, convencendo os bancos a aceitar grandes volumes de dinheiro vindos dessas empresas.

Outra dificuldade do Tradiv é o fato de o preço da maconha poder flutuar em até 50% a cada semestre, afirma o Inc. No outono americano, por exemplo, o mercado fica desvalorizado por acompanhar o fluxo de turistas. Sullivan conta que a startup está trabalhando em um algoritmo para informar seus membros quando eles podem comprar e vender a maconha pelo melhor preço possível.

Legalização

No final de 2012, o Colorado se tornou o segundo estado americano a legalizar a maconha.

Em 2015, o estado arrecadou 530 milhões de dólares com os impostos sobre os produtos. Em um país gigante como o Brasil, a legalização poderia render entre 5 e 6 bilhões de reais em taxação.