Esses dias…

por S. M. Hermes

Vi o filme Filhos da Esperança (2006), no Netflix. Num futuro distópico onde Londres foi a única cidade no mundo a não entrar em colapso, a infertilidade paira sob a humanidade — que teme sua extinção iminente. Muito bom o filme e, devidas as proporções, me lembrou de clássicos livros como Admirável Mundo Novo (1932), Laranja Mecânica (1962) e 1984 (1949). Isso além da aparição da nossa gloriosa Cannabis, cultivada, fumada e ofertada por Jasper Palmer, personagem interpretado pelo ator Michael Caine — que, infelizmente (pra ele), não é usuário da planta.

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Fui fazer meu exame periódico trabalhista — que, na verdade, como diz o outro, é só pra bonito; a famosa burrocracia. O médico me chamou, viu que eu estava com um livro na mão, perguntou o que eu lia, eu disse que era “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”. Ele perguntou se era melhor que o filme, eu disse “certo”. Depois da pauta livros, o médico me falou que, na opinião dele, Assistência Social e Psicologia seriam as piores graduações pra se cursar. A primeira, devido ao possível vínculo com o Estado, e a segunda, pois “não serve pra merda nenhuma”.

Entristeceu-me que um indivíduo graduado em medicina, teoricamente bem instruído, pense dessa forma. Logo, imaginei outro médico teoricamente bem instruído que fosse totalmente desfavorável ao uso da Cannabis, seja medicinal ou não. Que sentido faria essa sua oposição? No mínimo zero, no máximo nenhum.

Muitos desses preconceitos (senão todos) são herdados pelos indivíduos através do meio habitado, da sociedade em si, e tudo que a compõe — ética, moral, tabus, mídia, etc. Às vezes, tentativas de lavagem cerebral e alienação de fato funcionam.

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Conversei com um camarada, que de tempos em tempos sai pelo mundão num rolê de bicicleta e trampando como artista de rua. Nessa última trip, a polícia bateu na casa em que ele morava no Paraná, junto com a galera do mesmo rolê, e levou todo mundo preso por tráfico de drogas — pois, de fato, eles tinham algumas gramas e uns pés em casa. Conforme o relato dele, a cadeia estava superlotada e o PCC era o comando. Eles ficaram três dias e duas noites em cárcere, depois foram soltos.

Nesse mesmo dia, a gente fez o dry hopping de uma cerveja da nossa nobre, sublime e honesta produção amadora e caseira. E nesse mesmo dia, falamos sobre e olhamos alguns vídeos no YouTube sobre a teoria da Terra Oca — o que me fez querer ler Viagem ao Centro da Terra (1864), do Jules Verne.

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“Então a ciência mandou o telescópio Hubble para o espaço, e ele conseguiu capturar a luz e a ausência dela desde o começo dos tempos. E o telescópio realmente fez isso. Então agora sabemos que outrora houve absolutamente nada, um nada tão perfeito que sequer havia um nada ou um outrora. Vocês conseguem imaginar isso? Não conseguem, porque não há mesmo nada para imaginar.

Mas então houve um grande BANG! E é daí que veio toda essa porcaria.” – Kurt Vonnegut, em Armagedom em retrospecto (2008).