Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e Maconha Medicinal

Por Sergio Vidal*

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A ELA é uma doença que promove a progressiva degeneração de 2 tipos de neurônios: Neurônios Motores Superiores (NMS) e Neurônios Motores Inferiores (NMI). A doença provoca inicialmente tremores, câimbras e dores musculares, que rapidamente progridem para fraqueza, endurecimento e atrofia dos músculos. A doença atinge atualmente mais de 420.000 pessoas em todo mundo e mais de 6.000 no Brasil. Apesar de atingir de forma grave as funções motoras e poder levar a óbito, a ELA não prejudica as funções vitais ou cognitivas. Em geral a doença tem uma progressão muito rápida, mas essa não é uma regra e muitos fatores interferem na progressão e alguns podem viver muitos anos, como o físicoStephen Hawking, atualmente com 73 anos, tem a doença desde os 21.

Ainda é uma incógnita o que causa a ELA. Muitos pesquisadores apontam como certo o fato de que deve haver uma predisposição genética para o aparecimento da doença. Também é uma doença que aparece com mais frequência em atletas e pessoas que utilizam de forma excessiva o sistema muscular. Mas alguns estudos têm sido mais precisos ao apontar que, mesmo havendo participação da predisposição genética, a neuro toxicidade provocada por dietas com grandes quantidade de glutamato podem ter papel fundamental neste processo.

Ainda não foi descoberta cura para ELA e o tratamento é predominantemente sintomático. Diferentes drogas foram e estão sendo testadas, entre elas:antioxidantes, bloqueadores do canal de cálcio, agentes antivirais, inibidores da excitotoxicidade, plasmaférese e imunossupressores. No site da Associação Brasileira de Esclerose Amiotrófica Lateral eles citam uma grande quantidade de drogas que têm sido experimentadas no tratamento da ELA. Afirma ainda oTamoxifeno, utilizado originalmente no tratamento do câncer de mama, é atualmente considerada uma das mais promissoras, conseguindo desacelerar a progressão da doença.

 

O caso Bob e o tratamento da ELA com Maconha Medicinal**

O ativista Justin Kander publicou recentemente a história de Bob, que convive com ELA desde 1998 e faz tratamento à base de cannabis. Em 1998 Bob começou a sentir os primeiros sintomas, que se apresentaram com episódios esporádicos de dificuldade para movimentar o braço e engolir. Em 2012, 4 anos após os primeiros sintomas, Bob estava com sua saúde bem prejudicada por causa da doença e decidiu que era hora de mudar de atitude. Ele foi fumava grande quantidade de maconha habitualmente, há muitos anos, mesmo antes de ter sido diagnosticado com ELA. Bob atribui inclusive a esse hábito o fato da progressão da doença não ter sido muito rápida.

Ele então decidiu produzir sua própria medicina. Para isso Bob preparou duas salas de cultivo e um laboratório caseiro de extração de óleo. Para poder ter muitas flores e conseguir produzir uma grande quantidade de óleo, suficiente para um tratamento adequado, Bob precisou de muitas plantas, já que só 5% das flores sobram no processo de extração. Para cuidar de tantas plantas e produzir o óleo, contou com a ajuda de alguns amigos, por causa das suas condições físicas.

Por causa do seu histórico como usuário recreativo de grandes quantidade, Bob pode iniciar o tratamento com uma dose maior do que a maioria dos pacientes habitualmente começa. Na primeira semana ele consumia ¼ de grama de óleo por dia, na semana seguinte passou para meia grama e na outra para 1 grama. Bob consumiu 1 grama por dia durante 60 dias, até que retornou a uma dose menor.

Ele relata que com 10 dias de uso do óleo já começou a recupera o movimento do braço direito e ele deixou de usar aspirina, codeína e outros analgésicos. Bob ainda se beneficiou de alguns efeitos colaterais. O problema de pressão sanguínea alta também sumiu, a ponto dele precisar regular a ingestão do óleo para não baixar excessivamente a pressão. De fato, a ativação do receptor CB1 está relacionada com efeitos hipotensores.

O problema de eczema numular, asma, e uma infecção de herpes também desapareceram. O que pode ter relação com o potencial de alguns fitocanabinóides para beneficiar essas condições através broncodilatação, dos efeitos anti-inflamatórios e daação anti-viral, já revelada por alguns estudos. Um estudo de revisão científica, publicado em janeiro deste ano, avalia a ação dos fitocanabinóides no tratamento potencial de muitos distúrbios neuro-inflamatórios, incluindo a ELA.

Em setembro de 2014 Bob retornou aos Estados Unidos, após mais de 30 morando na Europa, entre Alemanha e República Checa. Sua missão atualmente é difundir o que aprendeu com seu tratamento com a cannabis medicinal e o óleo. Ele afirma que o uso do extrato, óleo descarboxilado e o uso de fitocanabinóides frescos, ainda na forma de ácidoTHC, ácidoCBD, etc, devem ser testados amplamente para o tratamento da ELA e acredita firmemente que se conseguisse aumentar a dose seria possível reverter sua doença.

Bob não é o primeiro paciente a se buscar cultivar seu próprio remédio e tentar a o tratamento da ELA através do uso da cannabis e seus extratos. Cathy Jordan(vídeo abaixo), também já revelou publicamente o quanto os fitocanabinóides tem ajudado a melhora sua condição de vida e hoje em dia é uma ativista pelo direito ao acesso livre à maconha medicinal.

Para concluir, cito um trecho de um estudo de 2010, que afirma:

“Idealmente, um regime multidrogas, incluindo antagonistas de glutamato, antioxidantes, agentes anti-inflamatórios de ação central, moduladores de células microgliais (como os inibidores de fator de necrose tumoral alfa [TNF-alfa]), um agente apoptótico, um ou mais fatores de crescimento neurotróficos, e uma agente de aumento da função mitocondrial são necessários para que se possa compreensivelmente se falar da fisiopatologia conhecida da ELA. Notavelmente, a cannabis é um poderoso antioxidante, antiinflamatório e possui efeitos neuroprotetores.”

* Sergio Vidal é antropólogo, pesquisador e ativista antiproibicionista. Atualmente é presidente da Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Maconha Medicinal – AMEMM

** Agradeço especialmente a Justin Kander, ativista do projeto Ilegaly Healed, por ter escrito a história de Bob e me orientado na elaboração deste artigo.

Sites de Referência Consultados:

Tudo sobre ELA

Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica

Ilegally Healed – A história de Bob, por Justin Kander

Examiner

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Wikipedia