por Tales Henrique Coelho
Na semana que passou um caso chamou muito a atenção de quem costuma acompanhar criticamente o noticiário sobre polícia, política e drogas. Foi a prisão de traficantes de classe média no Rio de Janeiro, com 300 kg de maconha e duas pistolas. Mas o que chamou a atenção não foi a prisão em si, mas o tratamento dado pela mídia ao fato.
Como eram de classe média, foram "jovens" presos. Quando é na favela, o nome é outro, e até a morte de suspeitos é justificada.
O caso é um belo exemplo de como no Brasil existem classes diferentes de pessoas. O jovem preto e pobre da favela pode ser assassinado pela polícia. Se estiver com um revólver e dez trouxinhas de cocaína (ou nada disso, no caso das provas forjadas pela PM), é automaticamente tratado como bandido, nada se investiga, e a sociedade ainda bate palmas para sua execução (inclusive alguns dos meus leitores).
O mesmo vale para usuários de classe média e os pobres. 40 gramas de maconha com um moleque desempregado da periferia é tráfico e dá prisão. 200 gramas com o playboy da zona sul do Rio é usuário, dá nada.
A história dos "jovens de classe média" presos com armas e 300kg de maconha é excelente para as pessoas refletirem neste momento, em que se discute a redução da maioridade penal no Congresso (ironicamente, o projeto tem o número de 171).
Para muitos, esta seria a solução dos problemas de violência. Mas ao analisar casos como este, dá pra imaginar quem serão os presos: menores de idade pretos, pobres, sem estrutura nem dinheiro pra pagar um advogado.
E assim seguimos nessa miopia hipócrita onde a maioria acredita em soluções simples para problemas muito complexos.
Ainda bem que o Uruguai é logo ali.
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