Deus é maconheiro, e eu também

por S. M. Hermes

A forma que os meios de transporte afetam nossa vida, é de fato implícita e intrínseca a vida na sociedade. Ter apenas suas próprias pernas enquanto meio locomotor é praticamente impossível nessa configuração atual de mundo, hora ou outra, usaremos um carro, trem, ônibus, avião, barco, etc. Uma das únicas “vantagens” que vejo em dirigir, é ter um tempinho pra fumar (e melar o chapão de Cannabis), o que é ridículo e egoísta da minha parte, convenhamos. Acredito que a bicicleta, o skate, os patins, e todos outros meios de transporte que sejam 100% controlados por nós, sem a interferência de qualquer máquina mais complexa, que necessite combustão, sejam tão saudáveis, conscientes e cada vez mais necessários atualmente quanto o caminhar, e se perder por aí.

“‘Com reprise ou sem ela, os meios de transporte modernos estão sempre por um triz.’ Na segunda vez, porém, foi o Universo com seu soluço, não a humanidade, o responsável por absolutamente todas as fatalidades.” – Kurt Vonnegut, em Timequake (1996).

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Terça fui no show do Roger Waters em Porto Alegre. Em determinado momento mostraram uma frase que dizia algo como “a política e o mundo hoje, faz parecer que estamos vivendo um pesadelo distópico”, bem pontual e preciso ele. Também rolaram vários coros de #elenão durante o show. Mas o mais insano mesmo, foi a galera com camiseta verde e/ou amarela vaiando quando rolava qualquer tipo de protesto político, sem nem mesmo entender o que tava sendo dito com aquilo, apenas pelo ódio cego ao pensamento oposto da mais qualificada família tradicional brasileira. Como muito bem se disse nos últimos dias, “O roqueiro brasileiro está em choque! Descobriram que o The Wall não é um álbum sobre construção civil”. E assim como o melhor do Brasil pode ser o brasileiro, as vezes também pode ser o pior. Em suma o show tava ótimo, pude me emocionar demasiadas vezes.

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Queria ter lido antes, mas esses dias assisti Planeta dos Macacos (1968). Também queria ter assistido o filme em 1968, e ter a perspectiva daquela época quanto a viagem distópica (ou utópica?!) que é essa obra, mas né, não se pode ter tudo nessa vida — quem sabe na próxima. Enfim, baita teto, baita filme. Sendo um dos grandes clássicos de ficção, Planeta dos Macacos aborda e traz a tona a questão existencial que perdura desde os tempos imemoriais da humidade, que consiste em saber quem somos, de onde viemos e pra onde vamos.

“Existe um planeta no sistema solar no qual as pessoas são tão burras que nem em um milhão de anos puderam perceber que seu planeta tinha outra metade. Só foram calcular isso há quinhentos anos! Só há quinhentos anos! E mesmo assim agora eles se intitulam Homo sapiens.” – Kurt Vonnegut, em Timequake (1996).