De saúde ao mundo dos negócios, a maconha é uma fábrica de notícias

Falamos da cannabis abordando diferentes aspectos: saúde, economia, segurança pública, cultura, história, esportes…

por João Henriques / Ilustração: Felipe Navarro

Antes de começar a leitura deste texto sugiro uma rápida passada pelo histórico de artigos do Hempadão publicados na Carta Capital. Falamos da cannabis abordando diferentes aspectos: saúde, economia, segurança pública, cultura, história, esportes. Um leque de assuntos tão amplo que só uma planta como a cannabis pode proporcionar.

Na área da saúde, o uso medicinal da cannabis finalmente deixou de ser um assunto quase exclusivo das rodinhas de maconheiros militantes para ser tema de debate dos programas que são líderes de audiência na TV aberta. Muita gente descobriu que a tão temida erva pode proporcionar uma vida menos sofrida para quem convive com doenças como glaucoma, câncer ou epilepsia e mais uma dúzia de enfermidades.

Quando o assunto é o mundo dos negócios, a maconha também tem espaço. Com a legalização no Uruguai e Canadá e alguns estados dos EUA, o noticiário está cheio de análises sobre o impacto econômico do fim da proibição e a expressiva arrecadação de impostos. A figura do traficante perdeu espaço para o empreendedor que gourmetizou o comércio da erva que agora é vendida com nota fiscal.

Já onde maconha continua proibida, o assunto ganha espaço quase diário no noticiário policial. Todo dia uma favela acorda com uma operação pronta para ‘enxugar gelo’, já que não consegue desarticular o narcotráfico, deixando um rastro de sangue no gueto. Todo dia são publicadas históricas de jovens pobres acusados de tráfico mesmo com porte de poucos gramas da substância ilícita.

A cultura (e principalmente a contracultura) estabeleceu laços bem fortes com a maconha. O simples ato de fumar em uma roda de amigos é carregado de valores simbólicos e culturais. A utilização da maconha no processo criativo já foi admitida por artistas do mais alto nível da Música Popular Brasileira. Uma rápida pesquisa pode revelar uma dúzia de bons músicos que são adeptos da cultura canábica. E alguns mantêm esse hábito por décadas.

No campo da história não faltam páginas sobre a maconha. Afinal, a cannabis é citada nas milenares farmacopeias chinesas. Também foi importante no desenvolvimento das grandes navegações do século XV, já que velas e o cordame dos navios eram feitos de cânhamos, a fibra da maconha. Até a roupa dos marujos que se aventuravam por mares desconhecidos tinha a planta que é tema deste artigo como matéria-prima.

Por mais contraditório que pareça a relação entre o uso de drogas e esportes, a maconha também se infiltra nesse meio. Nos Estados Unidos, vem ganhando força um movimento que pede a retirada da cannabis da lista de substâncias de doping. Atletas do MMA, do futebol americano e do basquete buscam na cannabis um alívio para as dores decorrentes de uma rotina de treinamentos de alto rendimento.

Não é que eles fiquem chapados para competir, pois o efeito poderia até ser prejudicial ao momento competitivo. Eles só querem relaxar depois de um dia de trabalho duro. O que está em jogo é o direito de atletas profissionais desfrutarem dos benefícios terapêuticos de uma planta. Será que é pedir demais?

 

O importante é falar da maconha

Quando o Hempadão foi criado, em 2009, uma coisa ficou clara: não ia faltar assunto para alimentar o blog no mínimo duas vezes por dia. Sempre tem uma notícia quente ou fria envolvendo maconha. E vai além. A imprensa sabe que o assunto é polêmico e costuma render boa audiência. Por isso, reportagens canábicas estão sempre entre as principais sugestões que são apresentadas em reuniões de pauta nos veículos de comunicação.

Céticos e defensores da proibição costumam debochar de análises como esta, que retratam as múltiplas utilizações da maconha. O fato de ela ser tão poderosa deveria servir para que ela fosse tratada com mais respeito. Pena que estamos muito longe disto.

**** publicado originalmente no blog do Hempadão na Carta Capital