Crise Hídrica e O Futuro da Cannabis:

por Léo Sativa

Como a atual crise da água no estado de São Paulo poderá atrapalhar qualquer regulamentação para o uso desta erva milenar

O sol já nasceu na cidade de Americana, interior de São Paulo, são oito e meia da manhã do ano de 2024. Ras Geraldinho, líder da primeira igreja rastafári do Brasil e agora em liberdade após ter sido acusado e preso injustamente por tráfico de drogas, levanta da cama e como de costume vai regar seu cheiroso jardim de cannabis. Assim que ele gira a torneira, apenas algumas gotas de água caem e um sopro de ar sai de dentro da torneira. A água em Americana acabou como em quase todo estado de São Paulo. Geraldinho e as outras pessoas que fazem o cultivo da cannabis estão sem água e agora não podem fazer com que as plantinhas cresçam e floresçam. Esse é o problema que muitas pessoas que quiserem fazer o cultivo da cannabis no Brasil poderão enfrentar caso ela seja regulamentada algum dia. Quais alternativas os cultivadores terão?

São Paulo está enfrentando sua pior crise de falta d’água dos últimos 80 anos. Conversamos com Kadu Bulla, técnico em tratamento de água e efluentes. Ele alertou que “São Paulo está a beira de um colapso”. Kadu também destacou que “40% de toda água que é enviada para os bairros se perde com vazamentos”. De acordo com Kadu, Israel, no oriente médio, “é um dos pólos mundiais de tratamento de água” e deve ser um exemplo a ser seguido aqui no Brasil. A reportagem entrou em contato com a empresa israelense Better que cultiva e vende cannabis medicinal em Israel há 15 anos. Yohai Gild, fundador da Better e master grower da empresa, contou que utiliza água reciclada (conhecida no Brasil como água de reuso) que é fornecida e tratada pelo governo israelense para fins agropecuários.

pdmcdnvAntes de utilizar essa água nas plantas, ela “passa por um processo de filtragem eliminando bactérias e mofo”. Yohai esclareceu que “a quantidade de água utilizada em uma planta de cannabis vai depender de sua espécie”. Yohai também nos explicou que a Better utiliza um sistema de gotejamento. De acordo com o agrônomo brasileiro João Fogaça, um sistema de gotejamento normalmente é feito através de uma mangueira com pequenos furos (um furo para cada planta) que gotejam de forma contínua e localizada. O gotejamento pode economizar até 50% de água e é uma técnica bastante utilizada na agricultura nacional, podendo ser uma alternativa para o cultivo da cannabis no Brasil.

O reaproveitamento de água, ou seja, fazer seu reuso aqui no Brasil ainda é uma atividade cara, mal regulamentada e que necessita de muito espaço físico para ser feita. Kadu nos explicou que a lei brasileira de reuso não permite o consumo completo da água reciclada – é autorizado menos da metade dessa água, seja ela reutilizada por uma empresa ou por um condomínio, por exemplo. Ele recomenda que haja uma fiscalização desta prática somada a uma normatização, visto que o consumo e abastecimento de água nacional ainda são feitos com tecnologias ultrapassadas.

Irrigar um cultivo com água reciclada ou através de um sistema de gotejamento, com intuito de economizar água, necessita de uma fonte de água e é esse o problema que não só São Paulo está enfrentando. O estado da Califórnia, que permite o cultivo medicinal da cannabis desde 1996, enfrenta atualmente sua pior seca, onde nas fazendas de cultivo já ocorreram casos de furto de água.

Vemos aqui mais uma perna de relevância social dentro da discussão acerca da cannabis. Falar de cannabis é também falar sobre conscientização dos recursos hídricos da Terra! Seja um usuário responsável e consciente – plante informação!