Criador da Sediña no Conversativa: “Uma distribuidora global de artigos de tabacaria” e muito mais!

Hoje vamos bolar um conteúdo internacional pros leitores do Hempa. Você já deve ter ouvido falar da Sediña, a marca originalmente uruguaia, criada por um brasileiro, que ganhou o mundo e extrapolou todos os limites de uma simples empresa de sedas para virar um negócio… da china?! Entenda mais sobre mercado, política e economia canábica como nosso entrevistado de hoje, o Fabio Bastos:

1) Tu já participou de uma entrevista com a gente, mas era no começo da Sedina. Diz aí o que mudou de lá pra cá.

Nossa! Um mundo de coisas, literalmente! Eu iniciei a empreitada da Sediña pensando em ser (eu mesmo) vendedor de papel no Uruguai, chegando la, após a abertura da empresa, a coisa foi tomando um tamanho que eu não poderia imaginar. Muitas pessoas foram querendo participar do projeto, ampliando os horizontes. Iniciamos nossa parte de cultivo extensivo e ganhamos a mídia internacional. A partir daí eu comecei a planificar a expansão da empresa para o rumo que está tomando hoje, de ser não só uma marca de seda, uma empresa de cultivo ou estritamente relacionada a planta. Hoje, somos uma distribuidora global de artigos de tabacaria além de mantermos todo o projeto canábico e principalmente não perdemos o foco na maconha medicinal. Posso dizer, com muito orgulho que a Sediña hoje é a primeira multinacional da maconha, com a promessa de até participar do mercado de commodities nos EUA. Enquanto houver o apoio das pessoas, dos movimentos e principalmente dos governos por onde trabalhamos, não vamos parar de levar produtos e informação ao público adepto ou simpatizante da erva.

2) Depois da mudança para o Uruguai, quando caiu  a fixa de que o destino da marca seria a China?

A China, ao contrário do que muita gente pensa e do que a mídia divulga, é a maior potência do mundo. Daqui saem a maioria dos produtos que abastecem o planeta. Quando ao ter um contato mais próximo com o mundo corporativo, atentei para o detalhe de que há um movimento migratório de todas as grandes empresas para o mercado chinês. Ao pegar a maioria dos produtos que vendo e ler em todos eles “MADE IN CHINA”, parei para pensar o porque de nós (sulamericanos, brasileiros) pagarmos tão caro em tudo. Daí eu quis conferir de perto esse mercado, as fábricas, as tradings, enfim, todo esse processo do comércio exterior, pra entender a dinâmica e tentar buscar um caminho alternativo de fazer com que os produtos tivessem um valor justo e real no momento da compra por nossos clientes. Descobri que, infelizmente, o percentual de lucro das tradings ultrapassava os 200%.

Quando você diz que é uma empresa sulamericana então, aí é que eles aumentam mesmo, por ter o pensamento de que não temos acesso a outros fornecedores com preços competitivos e que somos obrigados a pagar por esse “isolamento”, tando geográfico quanto político. Um dia perguntei a um amigo chinês que trabalha no departamento comercial de uma grande fábrica o porque de tanta “gordura” nos valores passados, sendo que se eu comprar diretamente com ele o preço é muito inferior. A resposta foi curta e grossa: ” Todo mundo sabe que na América Latina, e principalmente no Brasil, os impostos são abusivos. Se o seu governo ganha muito, por que nós não podemos ganhar?“ E pensando bem, o raciocínio deles não é de todo errado. Então, respondendo a pergunta: Viemos para a China pra fabricar ou comprar produtos na fonte e trabalhar honestamente, com preços justos, levando ao mercado sulamericano uma alternativa paupável de comércio, sendo parte e trabalhando para o nosso público comfoco na real situação econômica de nossa região. Com isso, mais pessoas têm acesso, mais difundido é o mercado e mais dinheiro circula para ser reenvestido na luta pela legalização em todo o ocidente.

3) Aproveita e conta como é viver por aí. Peculiaridades da vida, curiosidades locais e claro, se por aí tem recheio para a Sedina.

Para a decepção geral dos maconheiros de plantão, não! Não tem recheio. Ou melhor, até tem, mas se você for pego (ainda mais sendo estrangeiro) paga-se com a vida. Eu não to no outro lado do mundo pra dar esse mole né! Quando eu to muito na fissura, dou uma passada na Austrália e mato a “sede”. Lá há tolerância e a sensação de se estar cometendo um crime é quase que inexistene.

Na China, eu foco mesmo no trabalho, tento esquecer um pouco e lido bem com a minha abstinência. (risos) O curioso é que há gigantescas plantações de cânhamo industrial, os produtos relacionados são muito bem aceitos e não há uma associação com a conotação de ser uma droga. É considerado, como realmente deve ser, como uma matéria-prima de valor agregado, da qual derivam uma centena de produtos mundialmente aceitos.

Viver na China é uma aventura, de cores, de paladares, de aromas… é quase que uma surpresa nova por dia. Os chineses são extremamente receptivos, são um povo feliz. O sistema de governo não é opressor, apesar de todo o controle que exerce. Não se sente pelas ruas a falta de liberdade, basta adequar-se as regras. Quem anda “na linha” vive muito bem, aproveitando toda a estrutura que o governo oferece, usufruindo de um transporte público de primeiro mundo, hospitais muito bem equipados, índice de violência zero e muita atenção e auxílio por parte do governo para com os estrangeiros. Eu estou amando viver na China e não pretendo me mudar tão cedo. Aqui tenho tudo que preciso para viver bem, ter uma qualidade de vida invejável. Bom, quase tudo né! Só falta mesmo aquele baseado no final do dia pra relaxar (risos)… mas nada que uma boa ida ao templo não amenize.

4) Hoje a a Sedina já é uma marca com laços comerciais que se estendem por quais países?

Então, como eu comentei anteriormente, somos a primeira multinacional da maconha e já estamos presentes no Uruguai, Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Paraguai, Espanha, Alemanha, Egito, Emirados Árabes, China, Hong Kong, Philippinas, Thailândia, India, Austrália , Nova Zelândia e EUA. Ufa! Bastante trabalho. É claro que na maioria destes países estamos apenas com a seda e com os artigos de tabacaria. Com relação a maconha, estamos entrando forte no mercado australiano, que acaba de legalizar o cultivo e produção de derivados medicinais da cannabis. No Uruguai, por não concordarmos muito com o posicionamento do governo com relação aos procedimentos comerciais do segmento (lá, por exemplo, a questão das sementes é muito obscura, com o governo quase te dizendo de quem ou de onde comprar), estamos trabalhando apenas com um escritório em Montevideo e não faremos uma segunda tentativa no país, decidimos fazê-la na Austrália mesmo, onde a lei é infinitamente mais bem elaborada e o governo não faz questão de ser seu “sócio” e trata a questão como trata qualquer outro produto “normal”. Para mim, isso que falta na legislação uruguaia, tratar a maconha como um produto e não como uma excepcionalidade, uma concessão de diretos, onde o Estado dita as ordens, os caminhos e os impostos e procedimentos são feitos para dificultar.

O Uruguai precisa amadurecer muito a iniciativa tomada, no âmbito empresarial, porém, merece todo o respeito e reconhecimento pela atitude, além de ser um país comuma qualidade de vida extraordinária para se viver. Ainda prefiro o modelo da América do Norte, mesmo achando que ele não se encaixaria muito bem no Brasil. Para o Brasil, continuo defendendo que deve-se começar pelo modelo uruguaio, com controle estatal. Infelizmente na maioria dos casos, as pessoas responsáveis pelo processo não têm o menor conhecimento do mundo canábico, o que dificulta muito o andamento das coisas. No Uruguai, mesmo depois da regulamentação, ainda há sérias divergências entre cultivadores e governo.

5) Tá devendo uma caixa de Sedina para a redação do Hempa, hein!! Quando vem? Pode ser da Brown!! Falando nisso, você vem com bons olhos o mercado de sedas no Brasil e no mundo?

Hempa, peguem o telefone e liguem pra Receita Federal, peçam para os fiscais trabalharem!! Aí a seda chega direitinho! (risos). Aproveitem liguem pra Anvisa e avisa que o juíz mandou liberar o CBD e o THC, aí eu mando medicamentos também!

O Brasil é bem difícil, viu? Tem vezes que fico com grau máximo de indignação, por causa da morosidade, por causa dos impostos abusivos, por causa do descaso, por causa da politização da causa, por causa de tudo! É um “saco” trabalhar com o Brasil, mas como todo bom brasileiro, eu não desisto nunca!!

Quanto ao mercado como um todo, é claro que vejo com bons olhos. A tendência é de melhora e ampliação. Uma coisa que gostaria de deixar registrada é o bom relacionamento entre as marcas no Brasil. Eu tenho algum contato com os donos das outras marcas e vejo que não é um segmento de competidores ferrenhos, mas sim de empresários que lutam por uma causa. Isso eu tenho que aplaudir e enviar meus cordiais cumprimentos ao pessoal da Bem Bolado, da aLeda, da 4i20… todos. Tem espaço pra todos e sou a favor da diversificação do mercado, oferecendo opções para todos os gostos e bolsos. Indico que meus consumidores comprem de todas as marcas, ajudem o movimento e não apenas a minha empresa. Tenho muita segurança na qualidade do meu produto, sei que é um dos melhores e um dos mais elogiados e não fica devendo nada pra ninguém. Isso faz que com que eu tenha muita tranquilidade em “passear” com os colegas das outras empresas e colaboro sempre com o que posso (inclusive fornecendo pra outras marcas, não vou citar nomes, mas a Sediña hoje, fabrica para outras marcas do Brasil e Américas, desde a China).

6) O que mais te surpreendeu nessa jornada em relação ao seu país de origem? Ou melhor, o que você conta, sobre o Brasil, tanto para chineses quanto para uruguaios, e ninguém acredita?

Olha só Hempa, no momento eu estou tão revoltado com a situação em que nosso rico Brasil se encontra, que fica difícil fazer muitos bons comentários. Porém, quando mostro a nossa cultura, nossa música, nossa comida, nossa alegria, nossa perseverança… não há quem não fique louco de vontade de conhecer… sem falar das nossas belezas naturais. Eu espero, sinceramente, que em breve eu possa ter orgulho do meu país na área política e mostrar para os outros povos o quanto nosso povo é feliz. Tenho esperança e fé de que um dia, em breve, seremos uma nação justa, com distribuição de renda, com qualidade de vida e principalmente com segurança para a população trabalhadora. Que possamos caminhar pelas ruas, exibindo os resultados frutos do nosso trabalho , sem a preocupação de que seremos assaltados, sequestrados ou violentados pela miséria institucionalizada.

7) Não esquece de mandar aquele abraço para a galera do blog, que leu esse bate-papo até aqui.

Galeraaaa! Sem vocês não tem Hempadão, não tem Sediña, não tem movimento, não tem fumaça! Eu tenho tanto orgulho de vocês, que lutam pela legalização, que prestigiam os meios de comunicação alternativos, que compram os produtos dos empresários brasileiros que lutam pela causa. Eu só tenho que agradecer… abraço é muito pouco, eu mando um beijo na ponta do nariz (risos). Por favor, continuem, intensifiquem, não parem nunca. Se preciso, vamos pras ruas, vamos gritar! Não nos deixemos ser oprimidos pelos preconceituosos e desinformados. A maconha é vida, é cura, é prazer… é do bem! Fiquem com Deus e espero estar em breve aí pra fazermos aquela fumaça juntos!!