A expectativa era de 50 mil pessoas, mas só um décimo desse público chegou. O que ficou de lembrança foram os pulos de Tony Tornado na plateia.
Em 1973, Pena Schmidt foi à área rural de Cambé, no Paraná, para o “Woodstock pé-vermelho”, ou Festival Colher de Chá. “Era palco de tábua e tronco improvisado no morrinho, um lugar cheio de eucaliptos e o camarim de lona.”
Fonte: Folha
“Foi um mico total. Cem pessoas? Duzentas? Não era muita gente”, diz Schmidt, que era técnico de som dos Mutantes, atração principal do Colher de Chá. “Era uma tribo de pessoas chamadas de mochileiros. Eles andavam por aí de carona e frequentavam esses lugares.”
Quase todas as tentativas brasileiras de reproduzir Woodstock tinham o mesmo clima —banho de rio, mar ou cachoeira, nudez, maconha e entraves com a polícia.
“Eram coisas marginais, contravenção mesmo. Polícia não tolerava”, comenta Schmidt. “Vários ‘dançaram’ porque estavam fumando [maconha].”
Uma das empreitadas mais bem-sucedidas foi o Festival de Águas Claras, em Iacanga, em São Paulo. Leivinha, com 22 anos em 1975, idealizou o encontro e o promoveu no boca a boca. Retratado no documentário “O Barato de Iacanga”, o festival reuniu 10 mil pessoas na primeira edição.
Lá, a polícia foi leve na repressão, mas acabou fazendo um relatório sobre o que acontecia na fazenda. Isso levou ao cancelamento do festival, que só voltou em 1981, já com alguma fama entre o público.
O Festival de Águas Claras retornou mais organizado e teve edições até 1984, com shows de Raul Seixas, Alceu Valença, Jards Macalé, Jorge Mautner e Luiz Gonzaga. Até João Gilberto cantou para os cabeludos.
Tuca Borges tinha 16 anos em 1976, quando ficou sabendo do Woodstock paulista. “Não existia internet, mas os fanzines circulavam nos grupos e festas”, diz ele. Naquele ano, o jornalista Nelson Motta se esforçava para criar um Woodstock fluminense. O Som, Sol & Surf, que rendeu documentário homônimo, levou a Saquarema, no Rio de Janeiro, um campeonato de surfe —tendência na época— e shows.