Carta do Ras Geraldinho – Preso há 14 Meses!

Iperó, 20 de outubro de 2013

Com a graça de meu Pai Todo-Poderoso, Senhor dos Senhores, Rei dos Reis, Leão Conquistador da Tribo de Judá, Eu e Eu vos saúdo, irmãos de fé!

Na esperança de que toda luz esteja sobre o meu anjo da guarda, nós passamos mais um domingo de visitas na Penitenciária De Iperó.

Dia quente de primavera.

Os irmãos evangélicos se congregam na mínima área sombreada disponível.

Um murmúrio melódico angelical contamina a atmosfera de microondas que sentimos no Raio I.

Meus irmãos Sílvio e Casimiro se confrontam, compenetrados, num tabuleiro de xadrez.

Num espaço arquitetado para o convívio máximo de 135 detentos, 360 seres humanos disputam as nesgas de sombra que começa a se formar na marquise da radial, onde se enfileiram as celas em dois pavimentos.

Como é “muito sol pra pouca sombra”, para a maioria resta o recurso de caminhar incessantemente entre a radiação solar calcinante e o concreto escaldante.

Assim como vários outros irmãos, sou adepto ao estudo bíblico dominical e me deparei com um paralelo analógico da nossa esdrúxula realidade. Trata-se do texto de introdução da Epístola do Apóstolo Paulo a Filemon, que testifica: – Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo, companheiro de milícia, a Igreja está em sua casa…

Um dia de consagração em inúmeros momentos.

Ao final do dia fomos agraciados com um feliz arrazoamento com violão e música raiz, que soa como refrescantes gotas de liberdade.
Em cada letra um pequeno vôo de felicidade, lembranças de momentos alegres que confortam nossas almas.

Os dias de visitas, que se alternam entre sábados e domingos são singulares: para os detentos que recebem visita dos entes queridos o tempo passa rápido demais e para o resto de nós, as horas se esticam intermináveis.