Cannabis pra que te quero

por S. M. Hermes

Terça-feira de noite, olhando o Jornal da Globo, duas notícias me fizeram refletir. A primeira foi o velório da Aretha Franklin, em Chicago. Até entendo que velar o corpo do defunto é uma tradição estabelecida através dos séculos, mas convenhamos, que coisa estranha da p****. Ainda mais alguém famoso, pois a mídia cria um espetáculo hediondo em cima de tal. Acredito que, pra honrar a memória e prestar sua homenagem ao morto, não se faz necessária essa interação, pelo contrário.

Fumar um baseado talvez seja uma boa forma de fazer essa preza em memória de alguém que foi-se desse plano — ou que, “caiu fora”, como dizia Kurt Vonnegut.

A segunda notícia foi a do jogo do Santos pela Libertadores, quando a torcida começou a jogar bombas dentro do campo e tentou invadi-lo. Futebol é o ópio do povo, e essa violência é consequência das políticas de pão e circo, pois nada é por acaso, e tão pouco de graça. Conforme é vendida a ideia de torcer, ter um time de coração, acompanhar os campeonatos e inserir profundamente isso na sua vida, é óbvio que muita gente vai, de fato, levar isso a sério mesmo. Os objetivos de vida, as metas, é tudo resinificado ao futebol. Logo, determinados indivíduos vão se revoltar com determinadas situações e, a partir daí, a possibilidade de uma tragédia se torna real e concreta.

***

Observando a humanidade (na forma da sociedade contemporânea), é visível que em várias situações, nosso comportamento coletivo é comparável com o de animais vivendo em cativeiro. Os carros, os produtos desnecessários, as propagandas, o incentivo ao consumo, em suma todo o sistema funciona pra si — mantendo os indivíduos aprisionados dentro da cadeia que o rege e o alimenta. Unabomber já dizia.

A intenção é de nos persuadir, fazendo com que entremos na máquina e, independente da nossa vontade e decisão, estaremos sempre a mercê dos tentáculos da mesma. Nas palavras de Tolkien (1955), “Ele era grande demais para se submeter à vontade do Poder do Escuro, mas ele só via as coisas que o Poder lhe permitia ver”.

“– Outros males existem que poderão vir; pois o próprio Sauron é apenas um servidor ou emissário. Todavia não é nossa função controlar todas as marés do mundo, mas sim fazer o que pudermos para socorrer os tempos em que estamos inseridos, erradicando o mal dos campos que conhecemos, para que aqueles que viverem depois tenham terra limpa para cultivar. Que tempo encontrarão não é nossa função determinar. ” – J. R. R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (1955).

***

Já faz um tempo, não sei quanto exatamente, que eu implantei na minha rotina o hábito de mijar sentado. Infelizmente em relação a esse hábito, também não recordo qual foi a primeira motivação que tive. Mesmo assim, desde então, nunca mais parei.

São muitos os benefícios: rola dar uma relaxada, uma divagada, uma matada no tempo, respingos são evitados, coisas são percebidas, ideias surgem e são elaboradas, etc. Esses dias mesmo, uma amiga falou em fazer um informativo, incentivando as pessoas a mijarem mais sentadas.

“Por um mundo mais relaxado e tranquilo: mije sentado”, imagina só. Enfim, hoje é essa a semente que deixo pra germinar num tempo e lugar inesperados.

“– É sempre assim com as coisas que os homens começam; há uma geada na primavera, ou uma praga no verão, e suas promessas fracassam. […] – Mas raramente fracassa sua semente. […] – Esta fica na poeira e na ruína, para germinar de novo em tempos e lugares inesperados. ” – J. R. R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (1955).