Black Alien lotou o Circo Voador em show Inesquecível! Veja como foi…

Nada se torna um clássico à toa. O Babylon by Gus Vol 1 não é um dos álbuns mais célebres do rap nacional sem motivo. É versátil, tem letras fantásticas e cantado pelo Mc mais expoente de Nikiti. Lançado em 2004, o ano do macaco, o disco é um desfile de hits e por isso a casa estava completamente lotada para ver Gustavo Black Alien fazer a gravação completa, ao vivo, dessa obra de arte, no dia 23 de novembro de 2018.

Texto: Cadu Oliveira
Fotos: Lisandro Garrido

O sucesso já se via de fora. Antes mesmo de esquentar a pista da lona mais querida do Rio, os arcos da lapa estavam pegando fogo de gente a procura de ingresso. Isso porque o show havia dado sold out desde o começo da semana. O valor da entrada, que na bilheteria custava entre 40 e 60 reais, era ofertada, entre cambistas, por uma média de 150 a 200 reais. Preço de atração internacional, mas era pra assistir uma apresentação interplanetária.

_DSC2083A abertura do evento ficou por conta do Ademafia Crew, que botou ritmo de baile de favela na noite. No palco era DJ soltando pedradas, MC fazendo a cerimônia e Ademar captando os melhores takes. “Tem skatboard aí na casa?!”, perguntou o vocal, no que selecta soltou “O Simpatico”, do Mr. Catra, para animação geral dos presentes. “Ademafia é resistência”, fizeram questão de lembrar e deixar claro a trupe no palco.

Quando era meia noite dez a Mc Stefany, ainda na coxia, avisou: “Hoje é dia de celebração, dia de tirar uma onda, pois tá todo mundo aqui no mesmo propósito”, disse enquanto ia entrando no palco. Na plateia estavam personagens ilustres do Rap RJ, como Batoré e Papato, membros da ConeCrewDiretoria.

Ambas as apresentações fizeram questão de deixar registros de resistência com mensagens sobre o caso Marielle. Stefany fez a apresentação com vontade apesar do cuidado – e carinho – com a gestação. Puxou na palma e recebeu o calor da galera para cantar “no mundão, por aí, tem vários chatos de plantão”, e na sequência arrebatou com o som “Muita Calma”. E pra fechar, a pedrada certeira produzida por DJ Will, “Mulher MC”, um sonzaço muito bem executado ao vivo. Ela e bebê saíram do palco do Circo muito aplaudidos.

Gustavo Black Alien – A lírica bereta ao Vivo!

Tão diferente da média no quesito inteligência e originalidade, o apelido Alien caiu bem pro Gustavo. Sendo assim, Black pousa no Circo Voador e desce da nave espacial todo de branco, invadindo o palco a meia noite e quarenta e três, muitíssimo aclamado pelo público. A primeira, do disco e do show, é a autorreferente “Mister Niterói”, levando a galera ao delírio.

Com referência as Speed Freaks, o baile segue na ordem exata do álbum. Sendo assim, é a ver de “Caminhos do Destino” ganhar o coro geral. Para o show as artes do telão foram belissimamente produzidas, com imagens exclusivas para cada faixa. O mc pediu mãos pra cima e a plateia estava em plena sintonia. No fim da execução, coro de “Uh, Black Alien” foi repetido pela massa e respondido no microfone: “Vocês são foda”, disse Gustavo, repleto de humildade.

Se apresentando somente em companhia de Dj Castro, fica com o MC de Nikit a responsa de dirigir a câmera do palco e ainda sair, vez ou outra, para dar pitaco na mesa de som. A terceira música é a que dá nome ao álbum, “Babylon by Gus”, leva a galera a loucura cantando alto o refrão de fé: “Jah jah chamou, ele sabe que eu vou”, e se todos ali presente estavam era porque, de fato, ouviram o chamado.

Metendo cada um dos hits exatamente onde a coruja dorme, Black Alien fez apresentação perfeita de cada uma das canções. “U-Informe” causou alvoroço e esquentou a pista, enquanto a seguinte fez os casais se abraçarem. Era a romântica “Como eu te Quero”, um hino de amor e celebração a uma boa companhia.

Finalizando os trabalhos do Lado A do disco, foi a vez de “Umaextrapunkprumextrafunk”, onde o Mc deixou a parte “então dá um dois no kunk” para a galera cantar. Já na música número sete Black Alien arrancou aplausos da galera ao interromper a execução e pedir o “rewind” ao DJ, pela única vez na noite. “Estilo do Gueto” é mais uma vez acompanhada por coro dos mais fanáticos.

Enquanto tocava “1º de Dezembro” o telão virou de cinema, com imagens dignas de um clipe. Nessa Dj Castro agiu de dobra na voz e Black Alien vocalizou bonito no refrão. Entre as músicas o MC falou com o público raras vezes. “Não trabalhar dá mais trabalho do que trabalhar”, disse o Mister Nitetói enquanto o palco ficava todo no escuro.

_DSC2121O breu era para climatizar a mais espiritualizada canção do álbum. “Na Segunda Vinda” foi aclamada desde os primeiros acordes do instrumental. O Circo todo cantando junto o refrão sonhador emocionou quem tava no público e no palco. E olha que o Flamengo nem tinha perdido o título daquele ano por pouco – ainda.

Imbicando para o fim das músicas do disco, “Perícia na Delícia” chama a mulherada para cantar junto. Nessa Gustavo deixou as primeiras tomadas do refrão com a galera, para só na terceira vez cantar junto com o público. No intervalo Black Alien puxa em inglês uns versos do além.

Penúltima do ‘Babylon by Gus’, é a vez de América 21 cancelar o apocalipse pois precisamos salvar a América – ou pelo menos o rap nacional. E ninguém duvida que esse cara fez a parte dele. Por fim, “From Hell do Céu”, atualíssima, fecha com chave de ouro a lista de composições de um MC que tem palavra, flow e carisma afiados. O som termina e a casa ganha coro de “Gustavo” repetido para mais de dez vezes.

_DSC2164“Essa música foi feita em 2014 durante a rehab. Uma época que a psicoterapeuta falou eu não trabalho com esse aí nem pagando”, introduziu o som, com bom humor, antes de tocar “Terra”. Antes de lançar mais uma do álbum novo o MC sai para dar mais algum conselho na técnica.

A décima quarta do show é apresentada assim: “Essa é de 2012 com meu amigo Papatinho. Vem disco novo por aí, hein”, anuncia, introduzindo o pesado e combatente “Jah na Contenção”. Depois dessa o MC favorito de Nikiti sai de cena, mas volta rápido perguntando “como é que o som tá pra vocês?”, e lança mais alguns versos em inglês. Depois vem explodindo pelos PAs mais uma nova, “Identidade”. Muita fumaça e bons aromas no ar, parece até que setlist adivinhou, pois a próxima seria uma do Planet Hemp. Felicidade máxima ver ele relembrar essa fase da carreira. A escolhida foi a clássica “Contexto”, executada com DJ quebrando tudo nos skratchs.

Pra antepenúltima do show Black Alien vem dançando na intro com som pesadão produzido por Marcelinho da Lua na base de Bi Ribeiro. Era “Tranquilo”, anunciando que o baile é “heavy”, tanto que a pista agitou legal.

A dupla final ficou por conta de “O Estranho Vizinho da Frente”, intercalado de um sincero “muito obrigado”, destinado à plateia. E na sequencia veio a poderosa “Sangue de Free”, numa tomada sensacional. Finalizando o show, rolou aquela foto com a galera, quando o relógio já batia às duas e cinco da madruga. Foi só o mc sair do palco que instantaneamente o público fez coro de “mais um” e depois “olê, olê, Black Alien”, mas, apesar da insistência da plateia, os pedidos não moveram o bis.

Foram 19 canções, num show pra lá de animado. Sem deixar a pista esfriar, três minutos após o fim do show do Black Alien a mesa de som do DJ Marcelinho da Lua já estava a postos. Entre o set do DJ teve versões dançantes com vozes de Hélio Bentes, Russo Passapusso, do Baiana Systen e até Marcelo D2.

Foi lindo de se ver e ouvir. Fica a expectativa pelo CD novo, pela gravação desse show e também pela volta triunfal do MC que ainda tem muito barulho a fazer. No fim do show o beatmaker mais proeminente da cena carioca fez a master presa de levar nossa bolacha pro Mister Niterói dar a canetada. E o Papato ainda assinou, de surpresa, minha ferramenta de trabalho. Essa resenha, as fotos e vídeos e essa firma num dos vinis favoritos da nossa discotecanábica garantem que essa noite nunca será esquecida – nem com a mais severa sequela. Obrigado todos que fizeram parte e estavam juntos. A arte vive. A resistência segue. O Black Alien é foda – demais!