Bancada da maconha tem candidatos em 5 dos 10 maiores colégios eleitorais

Fonte: IG

Mais da metade do eleitorado brasileiro, pelo menos, terá oportunidade de votar em candidatos a deputado federal que defendem abertamente a legalização e regulamentação da maconha, tanto para o uso medicinal quanto para o recreativo.

De acordo com levantamento foi feito pelo iG, a possível bancada da legalização conta com pelo menos um candidato em cinco dos dez maiores colégios eleitorais do País: São Paulo (22% do eleitorado), Minas Gerais (10,7%), Rio de Janeiro (8,5%), Bahia (7,1%) – os quatro primeiros, nessa ordem –, além de Santa Catarina (3,4%), que ocupa a décima posição.

A maioria dos postulantes pertence agremiações pequenas e que defendem abertamente a legalização em seus programas, como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Verde (PV).

“A maioria dos políticos foge de temas polêmicos. E eu acho que isso prejudica e não representa como o debate tem surgido na sociedade”, afirma Renato Cinco, candidato  a deputado federal e atual vereador pelo PSOL no Rio. “Só tem uma corrente política que não está divida por esse tema: a extrema direita. Todas as outras correntes estão rachadas.”

O PSDB – que tem um presidente de honra favorável à descriminalização (o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) e um candidato à Presidência da República contrário (Aécio Neves) –  também tem interessados em compor a bancada da legalização da maconha. Da mesma forma o PT, que governa o País desde 2003, mas que não tem líderes políticos e nem governantes que toquem no assunto.   

“Nós não acreditamos que é uma contradição a gente defender a legalização e essa não ser a política do governo”, afirma Maurício Moraes, candidato a deputado pelo PT de São Paulo, ao iG. “O governo é maior que o partido [pois é composto de uma coalizão]. Por outro lado, o partido é maior que o governo [em termos de diversidade de opiniões].”

O tucano Lucas Oliveira, que concorre com o nome de urna Lucas Presidente THC – em referência ao tetraidrocanabinol, princípio ativo da maconha – em Santa Catarina, diz ter recebido apoio, mas também encontrado resistência dentro do PSDB.

“Fui militante de esquerda durante 14 anos e também não encontrava espaço. Nenhum partido é capaz de dar conta dessas questões [sozinho]”, explica.

Paz, medicina e liberdade

Além do combate à violência – argumento mais comum entre os candidatos ouvidos pela reportagem –,  há a defesa do uso medicinal da erva, aprovado por 57% dos brasileiros, segundo pesquisa feita pelo Senado em julho, por telefone, com 1.106 pessoas de todo o País.

No santinho de Robson Passos, do PV da Bahia, uma folha da maconha serve de pano de fundo para o bastão de Esculápio, símbolo da medicina. “Estamos em uma luta neste momento, com muitas pessoas dependendo da maconha para fins medicinais”, conta o candidato. “Há uma receptividade muito boa ao tema.”

Um terceiro argumento, mais ligado à defesa do uso recreativo, é o de que cada um decida o que quer fazer com seu próprio corpo.

“O Congresso vem sendo muito influenciado pelo fundamentalismo religioso. Nada contra nenhuma religião, [mas isso] tem bloqueado todas as pautas de liberdades individuais”, aponta Renato Cinco (PSOL/RJ).

Novos ocupantes deverão discutir o assunto

A discussão sobre a maconha ganhou corpo no Congresso no ano passado. Dois deputados do Rio de Janeiro – Jean Wyllys, do PSOL, e Eurico Júnior, do PV – apresentaram propostas para legalizar a droga para determinados fins.

O Senado, por sua vez, foi obrigado a discutir o tema após um movimento reunir 20 mil assinaturas e apresentar uma sugestão popular no início de 2014. A última audiência ocorreu na segunda-feira (12) passada e a proposta pode se tornar um projeto de lei.

“A própria pressão internacional vai fazer o país mudar”, afirma André Kieffer, que liderou o abaixo-assinado. “Propostas como essas, de regulação [do mercado da maconha]”, são propostas pragmáticas. Não adianta dizer que vai reduzir a violência [sem dizer como].”

A bancada da maconha tende a ser pequena – em parte porque captar dinheiro com a bandeira da legalização da droga tem sido um tanto difícil, mesmo num país de campanhas milionárias.

“As pessoas, por mais que apoiem e concordem, têm medo de pôr a cara [fazendo uma doação]”, afirma Álvaro Lobo, que concorre por Minas Gerais pelo Partido Verde (PV). “[E] eu não estou em busca de votos [unicamente]. Eu estou em busca de transformação social.”

A expectativa, entretanto, é que quem simpatiza ganhe coragem de falar sobre o assunto. “Muito deputado e senador vai sair do armário. É uma minoria que à vezes não é de 2% [do Congresso], mas de 10% a 20%”, aposta o petista Moraes.