Argentina adota modelo uruguaio para produção de maconha medicinal

Em duas semanas, chegam à Argentina as primeiras sementes para o cultivo oficial de maconha. O movimento se tornou possível após o Ministério de Segurança conceder, na última segunda-feira (11), permissão para que a província de Jujuy instale, em um território de 15 hectares, um campo de plantação, um laboratório e de um centro de estudos médicos e científicos relacionados à planta.

Fonte: Folha

A Argentina já tinha aprovado o cultivo da droga para uso médico em março de 2017. Porém, como o Estado não havia, até então, concedido as licenças necessárias para a produção, criou-se uma situação anômala, em que o uso medicinal estava aprovado, mas para se ter acesso à medicação era necessário recorrer ao mercado negro, ou cultivar em casa.

“Eu não posso correr esse risco de buscar um ‘dealer’, sou professora, não posso ir parar num local de venda ilegal e de repente ser presa por isso”, diz à Folha Irina Ragno, 42, que tem um filho com esquizofrenia.

Com um grupo de outras mães, ela tem feito petições ao governo para que sejam mais acessíveis, por vias legais, os remédios produzidos em outros países.

A maconha de uso medicinal tem uso liberado para fins diferentes, de acordo com cada país. Os casos em que sua utilização é mais recomendada pelos médicos são os de alívio de dores e de efeitos colaterais provocados pela quimioterapia, episódios de esquizofrenia e outros.

Porém, cada paciente deve ser avaliado e obter receita individualizada para seu caso, como já ocorre no Uruguai.

O país vizinho, aliás, é um modelo para o caso de Jujuy no que diz respeito à produção. Ela será estatal, assim como a venda para o mercado interno e externo.

Porém, não se contempla ainda a exploração comercial da maconha para uso recreativo, como no caso uruguaio.

A iniciativa de realizar o experimento em Jujuy partiu do governador Gerardo Morales, da União Cívica Radical (partido que integra a base de apoio do governo de Mauricio Macri).

A previsão inicial é de produzir cerca de 300 mil litros de azeite em cinco anos, para usá-lo na fabricação dos remédios.

A medida, porém, está causando certo ruído, tanto por parte da oposição, como de grupos de parentes interessados em obter a droga para tratar seus familiares.

Isso porque a empresa estatal argentina que participará do empreendimento, a Cannabis Avatãra, é dirigida pelo filho do governador de Jujuy, Gastón Morales, em associação com a norte-americana Green Leaf Farms International, que trará ao país os recursos e aparatos necessários para a produção.

Questiona-se, também, por que a licença foi concedida a Jujuy, onde governa um político governista, e não a outras províncias, comandadas pela oposição, que também fizeram a solicitação. Também está em questão o fato o filho do governador comandar o negócio.

A deputada oposicionista Alejandra Cejas diz que teme que a família Morales esteja transformando Jujuy num “narco-estado” e que o interesse das famílias que precisam da droga fique em segundo plano.

Gastón Morales disse em entrevista ao jornal Perfil que a oposição está sendo “imatura”.