Academia é invadida pela Psicodelia!

por Fernando Beserra

Ilustres leitores da Coluna Portas da Percepção, continua o fluxo de trabalhos acadêmicos norteado por discussões atravessadas pelos estudos dos enteógenos, psicodélicos ou, simplesmente, pelos estados alternativos de consciência. No Brasil não é diferente, embora com algumas barreiras difíceis de serem vencidas. Sites, congressos e formação de grupo de pesquisadores contribuem para facilitar esta realidade e o acesso aos leitores.

No Rio de Janeiro, no dia 27 de Agosto às 14 horas, é a vez do músico e psicólogo Sandro Rodrigues, militante da Frente Estadual Drogas e Direitos Humanos e um dos organizadores da Ala Psicodélica da Marcha da Maconha, defender sua tese de doutorado na Universidade Federal Fluminense. A tese de Sandro conduz a psicodelia em sua marca: “Modulações de sentidos na experiência psicodélica: saúde mental e gestão autônoma de psicotrópicos lícitos e ilícitos”. A defesa pública, aberta ao público, será realizada no campus Gragoatá da UFF, Bloco N, Sala 210 e contará com ilustres membros na Banca, como o Prof. Henrique Carneiro (USP) e tem Eduardo Passos como orientador.

Já no dia 05 de Setembro é a vez de São Paulo. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) será realizada a defesa da dissertação de mestrado deste que vos escreve há 04 anos no site Hempadão, também membro da Frente Estadual Drogas e Direitos Humanos do Rio de Janeiro e um dos organizadores da Ala Psicodélica. A sala será fixada no andar a pós-graduação da PUC-SP, campus Monte Alegre, 4º andar.

Para quem quiser conhecer a Arte Visionária, vale a pena procurar as obras de artistas como Alex Grey, Ernst Fuchs, Laurence Caruana, Da Es Scwertberger, e, voltando “um pouco” no tempo, de Hieronymus Bosch, William Blake, Francisco de Goya e mesmo do surrealista Salvador Dali. Recomendo fortemente o livro Primeiro Manifesto da Arte Visionaria, recentemente traduzido para o português e a tese de doutorado de José Eliezer Mikosz: “A Arte Visionária e a Ayahuasca: representações visuais de espirais e vórtices inspiradas nos estados não ordinários de consciência (ENOC)”, disponível no site do Núcleo de Estudos Interdisciplinar sobre Psicoativos. Para entenderem a proximidade do tema com a psicodelia, pode-se dizer que a Arte Visionária foi um nome dado a um estilo particular de arte na qual o artista visa produzir sua obra relacionando-a diretamente a visões provenientes de sonhos ou Estados Alternativos de Consciência.

Para entender um pouco da Dissertação:

A presente dissertação teve como objetivo compreender as respostas subjetivas de estudantes, catalisadas por um conjunto de obras do artista visionário Alex Grey. Foi realizada a exposição de algumas obras selecionadas do artista, em aparelho Data Show, a quinze estudantes, entre 18 e 29 anos, da PUC-SP. Após a exposição das obras, foi solicitado aos participantes da pesquisa que contassem uma estória sobre as obras apresentadas e foi realizada uma entrevista semiestruturada. Os dados foram sistematizados por meio do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) e interpretados com a utilização das abordagens da psicologia complexa junguiana e da estética da recepção. Observou-se que as obras têm o potencial de estimular profundamente o inconsciente. As respostas subjetivas foram marcadas por experiências emocionais intensas, seja de bem ou mal-estar, mobilizando projeções e conteúdos psicodinâmicos dos participantes. Alguns temas tornaram-se marcantes na experiência dos participantes que interagiram com as obras, como as dualidades, a morte, a finitude, o estranho, a religião e a espiritualidade, o corpo e a relação entre a vida cotidiana e experiências não convencionais. A dissertação possibilitou uma compreensão das respostas subjetivas de estudantes, estimuladas pelo conjunto escolhido de obras do artista Alex Grey.

Esperamos que o Brasil multiplique suas publicações sobre psicodélicos e, quem sabe, em breve estejamos também discutindo a legalização de substâncias como LSD, peiote, MDMA e Salvia divinorum!

Em suma, quem quiser, pode vir!