A Qualidade de Vida não deve ser negada aos Doentes!

Todd McCormick, 29 anos, padeceu de cancro entre os 2 e os 15 anos, o que re­sultou na fusão das suas cinco vértebras superiores. Em 1978, quando Todd tinha 9 anos, Ann McCormick, a sua mãe, leu na coluna “Médico de Família” da revista Good Housekeeping sobre o uso de mari­juana em casos de glaucoma e por parte de padecentes de cancro submetidos a quimioterapia. O artigo afirmava que a marijuana ajudava a eliminar a náusea e que estimulava o apetite. Estes eram os sintomas de Todd! Ele não conseguia comer porque se sentia enjoado, a comi­da agoniava-o, e a falta de comida en­fraquecia-o.

Passados alguns meses, como os tumo­res de Todd voltassem manifestar-se, a quimioterapia recomeçou. Após um des­tes tratamentos, Todd e a mãe iam a ca­minho de casa quando ela disse ao seu desanimado filho para se estender no fundo do carro e fumar um charro. Te­nha-se bem presente que à época Todd tinha apenas 9 anos. Chegaram a casa e, pela primeira vez, Todd conseguiu sair do carro sozinho e caminhar até casa apoiando-se em muletas. Então sentou–se à mesa e comeu o jantar! Estava de facto com apetite! Há muito tempo que não sentia tal coisa…

No dia seguinte, após o tratamento, Ann voltou a instruir Todd para se esten­der no fundo do carro e fumar um char­ro de marijuana. De novo Todd eviden­ciou os mesmos resultados. Era a mari­juana! Exultante, a mãe de Todd foi ter com os médicos para lhes contar o que se passara. Eles não se pronunciaram, infor­mando-a apenas que o processo de obtenção de marijuana médica seria moroso demais para ser de algum benefí­cio. Na realidade, embora a marijuana ajudasse de facto Todd, o conselho dos médicos foi motivado pelo receio da lei federal, das perseguições, multas e ameaças aos seus diplomas médicos e ga­nha-pãos a que se arriscavam se recomen­dassem o uso de marijuana. Quando a mãe de Todd se afastou, um médico abor­dou-a e perguntou-lhe se ela conseguiria arranjar mais marijuana! Ela ficou con­fusa, pensando que talvez ele quisesse al­guma para si, mas respondeu afirmativa­mente. O médico disse-lhe então para continuar o que estava a fazer e manter total discrição sobre o assunto! Foi exa­tamente o que ela fez. A partir desse dia Todd usou marijuana para aliviar a sua dor e sofrimento.

Em 1997, em Bel Air, Califórnia, Todd envolveu-se numa experiência utilizando muitas variedades de cannabis para de­terminar a eficácia de diferentes varie­dades da planta no tratamento de diver­sas dores e doenças, bem como as fases do crescimento e partes da planta mais prometedoras (p. e., antes da floração, de­pois da floração, no estado vegetativo?, das raízes? da semente? em que idade da planta? E assim por diante), e quais os produtos químicos presentes na planta de cannabis (p. e., os cannabinóides, o ácido cannabidiotico, o tetrahidrocannabinol, etc.) que eram dotados de ação terapêutica. Todd andava a escrever um livro meticulosamente documentado sobre este assunto quando foi preso pela DEA em 29 de Julho de 1997, acusado de con­spiração federal e manufatura (cultivo).

Em 3 de Novembro de 1999» no Tribu­nal Federal de Los Angeles, o juiz George H. King negou a Todd McCormick qual­quer possibilidade de defesa baseada na necessidade médica, de modo que em 19 de Novembro de 1999 Todd admitiu-se culpado, e em 27 de Março de 2000 foi condenado a cinco anos de detenção prisão federal de Terminal Island, onde atualmente cumpre os seus cinco anos enquanto aguarda o resultado de um recurso judicial.

Além disso, em Julho de 1998, o editor de Todd, Peter McWil­liams, autor de 35 livros (cinco dos quais figuraram na lista dos mais vendidos do New York Ti­mes), que padecia de SIDA e can­cro desde 1996, foi também preso pela DEA, alegadamente por conspirar para subsidiar a “ope­ração” de marijuana de Todd, produzindo-a com intenção de a vender a clubes de compradores locais, tudo o qual — caso as acu­sações fossem verdadeiras — teria constituído a sua prerro­gativa legal no interior do estado da Califórnia. Mas McWilliams afirmou peremptoriamente que nunca cultivara marijuana nem realizara lucros com a venda de um único charro, o que foi confirmado por todos os seus associados, e mesmo por inimigos seus.

Peter foi forçado a solicitar um compro­misso, e devia ser sentenciado em Julho de 2000, enfrentando uma pena de o a 5 anos, sem direito a recurso. Em 14 de Junho de 2000, Peter McWilliams faleceu.

De acordo com as condições da sua libertação condicional (a qual foi garan­tida pela hipoteca da casa que pertence à sua mãe há 50 anos), Peter foi obrigado abster-se do uso de maconha, que era o único medicamento capaz de aliviar a náusea causada pelos tratamentos que fazia por causa da AIDS e do câncer. Sem fumar maconha, Peter, juntamente com centenas de milhares antes de si, mal conseguia impedir-se de vomitar os coquetéis quimioterápicos que era obrigado a engolir diariamente. Porque não lhe foi permitido usar maconha medicinal, adoeceu e acabou por sufocar no próprio vômito, morrendo subsequentemente. Num certo sentido foi assassinado pelo governo em virtude das condições impostas para a sua libertação condicional. A qualidade de vida não devia ser negada aos doentes e moribundos!

Em 9 de Agosto de 1999, a DEA solici­tou à Alfândega dos EUA que apreendes­se todos os carregamentos de semente de cânhamo, ou produtos seus derivados, na fronteira com o Canadá, e os testasse para detectar qualquer THC ou elemen­to residual de THC (p.e. 10 partes por milhão). Isto gerou o caos nas empresas do ramo das sementes de cânhamo, le­vando à falência algumas delas devido ao impacto financeiro causado pelas apreensões.

Todos os carregamentos passaram en­tão a ser apreendidos pela Alfândega dos E.U. Em Dezembro de 1999, os políticos americanos conseguiram anular a or­dem, e a Alfândega concordou em não reter os produtos contendo elementos residuais de THC, tais como xampus, sabão, rações para aves, substituto de queijo, etc. Os produtos foram desembargados em teoria, mas mantiveram-se nos armazéns da Alfândega dos EUA. Em 12 de Janeiro de 2000, o czar antidroga da Casa Branca, Barry McCaffrey, impôs-se à DEA, que suspendera a sua alegação para embargar os carregamentos, e orde­nou pessoalmente à Alfândega que apre­endesse todo e qualquer produto conten­do mesmo quantidades residuais de THC. Segundo Barry McCaffrey, tole­rância zero é tolerância zero, embora fos­sem precisos 20.000 quilos de sementes de cânhamo para se obter THC equiva­lente ao de um baseado.

O OnJack publica, semanalmente, trechos da tradução do livro de Jack Herer, The Emperor Wears no Clothes.