A polícia que mata e seus cúmplices

por Tales Henrique Coelho

A semana que passou foi de muitos acontecimentos importantes – como o ataque sem sentido à redação do jornal Charlie Hebdo. Mas o que mais chamou a atenção, por ter acontecido tão perto, foi a divulgação do vídeo em que PMs do Rio disparam 9 tiros de fuzil contra um carro, matando uma estudante.

‘Foi um caso isolado’, vão dizer as ‘autoridades’ responsáveis pela segurança pública do Rio. Isolado, como os casos do menino João Roberto, também fuzilado por engano por PMs, do pedreiro Amarildo ou da diarista Claudia, morta e arrastada pelos policiais em plena luz do dia. A isso podemos somar milhares de casos que acontecem todos os dias no Brasil, quando esses que deveriam defender a sociedade atuam de maneira igual ou pior à dos bandidos “de verdade”.

Mas, de quem é a culpa?

É claro que, neste e nos outros casos, a culpa é primordialmente dos policiais que praticaram o ato. Podemos colocar isso também na conta da falta de preparo, do treinamento precário, chamado de ‘fast-food’ aqui no Rio, onde o governo acelerou o curso para 5 meses, de modo a conseguir suprir a ‘demanda’ por mais e mais PMs, seja nas UPPs ou no asfalto, em geral da Zona Sul.

Mas essa culpa deve recair também sobre grande parcela da imprensa e da sociedade, que não se fazem de rogados na hora de defender que ‘bandido bom é bandido morto’, e que é preciso ‘largar o aço’ em cima dos ‘vagabundos’. Esse tipo de pensamento é o que faz com que o PM se sinta um guerreiro do bem, que se sinta autorizado a atirar primeiro e perguntar depois.

Todos os que falam contra os Direitos Humanos são também um pouco responsáveis pela barbárie praticada pela PM, seja no Rio ou em qualquer lugar do Brasil. Afinal, se o carro fosse realmente roubado e os dois soldados tivessem matado três ‘bandidos’, eles estariam sendo aplaudidos por Bolsonaros, Datenas e Sherazades, ou estou errado?

Há uma razão para se defender que não podemos aceitar o tribunal de rua, os assassinatos de suspeitos e o justiçamento. Porque todos têm direito à vida e à presunção de inocência. Quem aplaude quando a polícia mata “bandidos” e “traficantes” é também um pouco cúmplice do assassinato da jovem Haissa Vargas