Você já ouviu falar da maconha pediátrica

Fonte: Hyperscience

No Brasil, a maconha (ou Cannabis) é ilegal. Em 17 estados americanos, no entanto, até criança pode obter a substância.

Claro, com restrições. Mas pessoas com menos de 18 anos que tenham uma condição de saúde limitadora (uma doença com sintomas graves ou que não pode ser curada) podem receber prescrição de maconha medicinal.

O tema voltou à debate nos EUA recentemente porque o estado de Massachusetts em breve será mais um que vai permitir a maconha medicinal a crianças.

Só que a Academia Americana de Pediatria se opõe ao uso da droga por menores de idade, porque isso não foi clinicamente testado (e nem deve ser no futuro próximo, porque é eticamente bastante complicado sujeitar crianças ao uso de uma substância ilegal). O tratamento também não foi aprovado pela Administração de Drogas e Alimentos dos EUA.

 

Ainda assim, nesses 17 estados americanos e em Massachusetts, crianças vão poder usar a terapia alternativa, mas precisarão de autorização por escrito de dois médicos diferentes, um dos quais deve ser um pediatra, e o consentimento dos pais.

No Brasil e no mundo

EUA, Canadá, Reino Unido, Holanda, França, Espanha, Itália, Suíça, Israel e Austrália são alguns países em que o uso da maconha para fins medicinais é permitido ou parcialmente permitido (geralmente, o cultivo domiciliar e o consumo são liberados perante receita médica). Em janeiro desse ano, o senado da República Tcheca também aprovou o uso medicinal da maconha, que vêm ganhando força em várias partes do mundo.

Na Holanda, onde até o consumo recreativo é liberado, a maconha medicinal só deve ser prescrita como última alternativa para o tratamento de dores crônicas, rigidez muscular e espasmos provocados pelo câncer, náuseas provocadas por tratamentos quimioterápicos, perda de apetite provocada por Aids e anorexia, esclerose múltipla, síndrome de Tourette, mal de Alzheimer, distrofia muscular, fibromialgia, caquexia e esclerose lateral amiotrófica.

No Brasil, a legislação não prevê o uso da maconha para fins terapêuticos. Em maio de 2010, um simpósio científico internacional organizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas discutiu a criação de uma agência nacional para regular o uso medicinal da maconha no país, mas isso ainda não saiu do papel.

A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que a maconha pode ser medicamento, apesar da proibição da Convenção Única de Entorpecentes, datada de 1961 e assinada por diversos países incluindo o Brasil, mas somente quando as nações oficializam uma agência especial (ou seja, regulam o consumo medicinal) da planta cannabis.

Maconha para criança?

Pode parecer extremamente controverso, polêmico e até bizarro, mas as mães não descartam a possibilidade de usar maconha para tratar seus filhos.

“Eu posso tentar, especialmente se o meu filho estiver com dor”, disse a mãe americana Tonya Rogalski, de West Springfield. “Mas eu precisaria de muito mais informações, faria uma pesquisa e um monte de perguntas para os médicos”.

Algumas das condições para as quais as famílias mais usam maconha medicinal para tratar são autismo, câncer e convulsões.

No caso do americano Zaki Jackson, de 11 anos, a maconha medicinal tem sido uma salva-vidas. Jackson foi diagnosticado aos seis meses de idade com uma forma de epilepsia tão grave que causava até 250 convulsões por dia. Seus pais tentaram 17 medicamentos diferentes ao longo de um período de 10 anos para tentar acalmar suas convulsões, mas nada funcionou.

Até que o médico de Zaki prescreveu maconha. “Somos cristãos”, conta a mãe de Zaki, Heather. “Somos conservadores. E estamos usando maconha medicinal. Apesar do estigma associado a cannabis, eu devia a Zaki pelo menos experimentá-la”.

E deu certo. “Ele não teve quaisquer convulsões após sua primeira dose”, relata a mãe. Nos oito meses desde Zaki começou o tratamento, ele finalmente foi capaz de fazer atividades normais de criança, como brincar em uma balança.

Ano passado, no estado americano de Oregon, Mykayla Comstock, de 7 anos, também passou a usar maconha medicinal para aliviar os sintomas de sua doença: leucemia da célula T, um tipo agressivo de câncer de sangue. A droga ajuda a menina a comer e dormir.

No mês passado, o estado de New Jersey, também nos EUA, aprovou a remoção de algumas barreiras que proibiam crianças de serem beneficiadas pelo programa do governo que permite o uso de maconha medicinal no combate a doenças graves. Muito da aprovação se deveu a comoção geral pelo caso de Vivian, a filha de 2 anos de idade do casal Meghan e Brian Wilson, diagnosticada com síndrome de Dravet, uma forma grave de epilepsia e doença mortal. Os pais da criança disseram que encontraram casos semelhantes no Colorado e na Califórnia onde crianças responderam positivamente na prevenção aos ataques epilépticos, mas não podiam explorar essa opção de tratamento para a filha deles.

Os críticos da maconha pediátrica, incluindo a Academia Americana de Pediatria, argumentam que a prescrição de marijuana para crianças ainda não foi suficientemente testada e os efeitos a longo prazo do uso juvenil são desconhecidos.
Outros grupos, como o Instituto de Medicina Cannabis, afirmam que a maconha pode ser produzida de forma a minimizar suas qualidades psicoativas.

No caso de Zaki, sua maconha foi especialmente criada para ter baixos níveis de THC, a substância psicoativa na droga, mas altos níveis de um canabinoide chamado canabidiol, ou CBD. Embora tanto THC e CBD impactem positivamente sintomas como dor, náuseas e convulsões, a CBD não é psicoativa, ou seja, as crianças que usam esse tipo de maconha não ficam “doidas”.

Ainda assim, alguns especialistas são céticos. A Dra. Sharon Levy, do Hospital Infantil de Boston (EUA), reitera que faltam estudos clínicos. Levy também observa que algumas substâncias que uma dia prometeram curas há muito foram descartadas como ineficazes ou prejudiciais. “Um par de gerações atrás, os médicos recomendavam tabaco como um bom método de relaxamento ou para aliviar o estresse”, diz. “Agora parece inacreditável”.