Você aperta um com a Direita ou com a Esquerda? Ora, com as duas!

A gente chapadão no meio dessa multidão toda de gente fica sempre sem saber bem o que, de fato, produz essa realidade coletiva tão turva em seus sentimentos e anseios que chega ao ponto de, naturalmente, segregar e por vezes aprisionar pessoas como nós, que gostamos da maconha. Explicações simples precisam ser deixadas de lado quando as questões são complexas, envolvendo milênios de cultura, séculos de tradição, décadas de repressão e, também evidente, algumas horas de pura maresia.

O Chapa2 de hoje vai falar de política, é claro, como de praxe. Mas não vamos acirrar os ânimos já tão exaltados, pelo contrário, vamos tentar buscar um caminho de pensar filosófico e sociológico sobre a nossa situação atual. Sem desrespeitar ninguém, seria bom convocar Dilmas e Aécios e para pensar porque pensamos assim, porque somos assim, porque o Brasil se encontra nessa: beck dichavado para a legalização mas sem a seda coragem e justiça para apertar. Fogo na leitura: pra enfumaçar o pensamento.

Seja lá você de esquerda ou direita: ouça meu conselho, não seja extremista, pelo menos não ao ponto de alimentar raiva ou ódio. Os extremos geralmente são unilaterais e, como bem diz o ditado, “toda unilateralidade é burra”. Toda forma de pensar que não considere em nada o lado do outro é, acima de tudo, um desacato ao convívio da sociedade no geral. Além disso, o pensar extremista faz a interpretação dos fatos saírem dos eixos, produzindo muitas vezes verdades alternativas, certezas ilusórias, tendências psicológicas, análises da emoção e não da razão.

No caso da maconha, por exemplo, quem é contra nem sabe ao certo porque é contrário. Isso se deve a preceitos culturais, coisas que sempre se ouviu falar. Vivemos na chamada “sociedade da informação”, mas a grande verdade é que nós, como nossos avós, somos/foram influenciados pela forma como vivemos na região onde nascemos: aprendemos não só o idioma de nosso país, mas seus meios de interpretar as coisas. Muitos maconheiros de hoje já foram preconceituosos em relação a planta, isso porque é natural herdarmos do meio em que vivemos os traços do subconsciente coletivo. Mas, uma vez doidão, ninguém pode lhe impedir de contestar esse pensamento. E mais, de perceber que, caso parassem para pensar: não seria difícil que as pessoas mudassem de opinião.

O problema é esse: cadê a autonomia das pessoas para se autorizarem a pensar diferente da maioria? Ora, essa questão já foi levantada por Platão, há séculos, em seu mito da caverna. Se você começa a falar de todas as beneficies da erva, desde o lado medicinal até o industrial, provavelmente vão lhe chamar de louco como aquele que se desprendeu das sombras, viu a luz e resolveu contar aos aprisionados do fundo da caverna.

Então o essencial não é apensar pensar sobre assuntos, mas ponderar (sempre) quais são as origens daquela forma de pensar, com quem aprendemos e de onde tiramos as ideias que por vezes passam em nossas cabeças. Além disso, seria interessante o aprendizado de não ferir o outro como não gostaríamos de sermos feridos. E aqui o papo não descambou para a religião, é ainda sobre política mesmo que estamos falando: basta de julgar e condenar os outros pelo que fazem ou pelo que são. Somos maconheiros. Não vamos entrar numa de apedrejar cheiradores, ou membros da elite, ou nordestinos, ou quem quer que seja.

É preciso saber o que é o Brasil. Como foi composta nossa gente, de onde transbordam nossos medos e desejos, aonde se aprende isso? Que herança de conservadorismo é essa e de onde ela vem? Que forças do além fazem o maconheiro e ex-esquerdista Lobão subir num caminhão para ser aplaudido por um público que defende golpe militar no país?

Vale lembrar que se você votou 45 não precisa necessariamente aliar seu pensamento a dessa gente. Já houve manifestações de dentro do PSDB tentando se desvincular de tamanha imbecilidade. Até bastiões do pensamento reacionário estão se envergonhando dessa galera gritando eloquente: “Bolsonaro, Bolsonaro!”, enquanto o político e escrivão da PF ostentava uma pistola na cintura. Nada demais. Maconheiros com seus becks no bolso, Bolsonaros com sua arma. Nenhum problema. Tirando as agressões bizarras de alguns extremistas contra quem pensa diferente, assista:

Protesto de fascistas na avenida Paulista from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.

Para ler um pouco mais sobre o malefício que esse movimento reacionário faz até mesmo ao partido liberal brasileiro, leia este artigo.

Antes de dizer tchau, gostaria de propor um exercício de sabedoria a todos que enfrentaram bravamente o texto até aqui. Para se livrar ao máximo do pensamento unilateral precisamos analisar as coisas a luz da verdade e justiça. Não devemos compreender o mundo através somente da nossa realidade. Exemplo: não posso achar que todo jovem da minha idade é matriculado na faculdade só porque no meu círculo de amigos todos são universitários. No Brasil o número de pessoas que concluíram o terceiro grau é baixíssimo. Não podemos achar que todos acessam a internet só porque nós a usamos todo os dias. Parece simples, mas pensar fora da nossa realidade é uma dificuldade para muitos.

Além disso, o básico: ninguém é melhor do que ninguém. Querendo ou não, continuaremos juntos. E como empunhamos baseados e não pistolas, vamos por fogo na paz e não na guerra. Busquemos compreender e sempre debater com honestidade. Se vivêssemos em uma ditadura, duvido que a nossa e tantas outras redações sobre maconha continuariam produzindo. Seguimos a todo vapor.