Senador Perrella diz que “só trafica drogas” e ninguém se importa

“Eu não faço nada de errado, eu só trafico drogas”, disse o senador Zezé Perrella (PMDB-MG) em conversa telefônica com Aécio Neves (PSDB-MG). A ligação grampeada pela Polícia Federal aconteceu no dia 13 de abril deste ano e vazou para a imprensa na última semana.

Para os esquecidos vale resgatar que, no ano de 2013, um helicóptero de propriedade da família do senador Zezé Perrella foi apreendido pela Polícia Federal com cerca de 450 kg de cocaína e no ano seguinte a Justiça entendeu que não havia provas do envolvimento dos donos com a apreensão.

Depois do vazamento da conversa com Aécio, a assessoria de Perrella afirmou que o senador estava usando de ironia e a frase foi falada em um contexto de reclamação por parte das acusações que recebeu por causa da apreensão do helicóptero.

De fato, não se pode negar que declaração “eu não faço nada de errado, eu só trafico drogas” possa ter acontecido em forma irônica. Por mais que a nossa suspeita tenha bons argumentos, uma declaração solta não pode servir como prova definitiva.

Mas é inegável que essa elite política e econômica conta uma blindagem do judiciário para acobertar (ou arquivar) práticas ilegais. Perrella pode brincar ao telefone fingindo que é traficante sem despertar desconfiança dos agentes da lei. Mas se um jovem suburbano declarar algo parecido, a justiça terá as provas necessárias para enquadrar mais um no crime de tráfico.

O mesmo tratamento se repete nas reportagens da grande mídia, no que é ensinado nas escolas, nas conversas de família ou qualquer outro ambiente social. O estereótipo construído para o traficante de drogas não inclui pessoas que andam de terno e/ou ocupam cargos de respeito no setor público ou privado.

Isso não é pouca coisa. A blindagem do tráfico engravatado simultânea à perseguição implacável ao tráfico de varejo nas favelas ajuda na construção de uma imagem mentirosa do “padrão” do vendedor de drogas ilícitas. Perrella até pode ser traficante, mas ninguém olha para o Senador da mesma forma que olha para Fernandinho Beira Mar.