Relato do Leitor sobre Abordagem Policial: “Seu nóia!”

O suficiente para fazer uma pontinha, era o que eu tinha. Resolvi apertar com um pouco de tabaco, só para dar uma luz antes do almoço, coisa simples, nem 500mg de cannabis. Acabei de acender, dou dois tragos, a casa caiu, a viatura passou e ganhou. Acatando a ordem, encostei. Saio de dentro do carro normalmente, aquela mão levantada de leve, não sou nenhum marginal e o policia logo viu. Revista padrão tudo dentro da normalidade, pergunta se tenho algo a mais no carro e explico oque portava, era só aquele fininho que em sua maioria era tabaco. Ele procede uma revista no interior do carro. Então é a vez de seu parceiro que resolve fazer o papel de “Policial mau” tipo nos filmes americanos, e foi isso que me incomodou…


– Quem você é? Onde trabalha? Onde mora? Com quem?

Explico tudo normalmente, dando detalhes e com a firmeza de um cidadão de bem ciente das leis. E continua … “Esse carro é seu? Tá no seu nome? Comprou onde? Seu nóia … Ai não deu… NÓIA? Logo respondi: (segue o diálogo)

Eu – Noia não!
PM – Então você é oque?
Eu – Sou um usuário de Cannabis, trabalho, tenho minha residência, familia, não sou noia.
PM (Tirou um sarro com o outro, que já tinha se aproximado, por eu ter usado o termo Cannabis: “Você viu, é noia mas é inteligente)
PM – Então pra você o que é noia?
Eu – Para mim é aquele que não tem mais controle sobre a droga, um usuário pesado, doente.
PM – Pra mim você é nóia!

Dai segue, seu noia, seu noia, seu noia, é você que financia o trafico, seu noia. Por isso o Brasil esta desse jeito, seu noia, você entendeu que você é noia? Seu noia … vou prender seu carro, mas dai tenho que te levar pro DP e lá você vai assinar um usuário, porte de substância ilícita, não vai mais arrumar emprego, vou ter que separar o que é maconha do cigarro… seu noia!

Bem, contra fatos não há argumentos, eu estava errado e poderia ter sido autuado formalmente, fiquei calado e a contra gosto concordando com o policial em tudo que ele me adjetivava e me atribuia culpa, e assim, a advertência foi oral. Fui liberado e segui o trajeto.

Desse fato ficou minha indignação, um policial na minha opinião bem mais capaz e formado, o “Policia bom”, logo percebeu do que se tratava e não viu necessidade de um “esculacho” a céu aberto, me advertia quanto a ilegalidade da substância e que enquanto ela não fosse liberada seria esse o procedimento. O outro, “Policial mau” fez questão de tentar me denigrir, me atribuindo rótulos frutos do seu preconceito, me culpando pelo tráfico e relacionando o meu hábito com problemas do país, isto acredito por falta de conhecimento. Chegou até a me ameaçar de levar em uma biqueira e me entregar como X9. Pura ignorância ou limitação daquele ser que também é vítima? Sim, uma vítima real do estado. Esta forma de pensar condiz com quem foi privado da educação de qualidade, com informações alinhadas ao progresso. De quem foi submetido ao pensamento simplista, sem o convivio de pessoas de intelecto e moral elevada o que o leva ao simples julgo do certo e errado sem a averiguação das circunstâncias, sem tolerância.

Pessoas assim não podem compor uma corporação como a Policia Militar, na verdade vou além, eles sim deveriam compor a Policia Militar! Mas a segurança e o patrulhamento das cidades não deveria ser feito pela PM. Necessitamos de guarda capaz e formada, apta a lidar com o cidadão, que seu efetivo seja formado por agentes de integridade e formação para saber como agir e prestar um serviço real a população, sem as mentes violentas e conturbadas de muitos PM’s que são expostos ao risco de morte diário combatendo o tráfico ou melhor, enxugando gelo. Precisamos de uma reforma urgente na Política de drogas, alinhada com a situação atual, onde não tenhamos que perder Homens, energia e dinheiro combatendo o tráfico.

Carta do leitor.

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