Relato da Viagem ao Uruguai da Miss Marijuana 2014 – Parte 1

por Juliana M.

Chegamos a Montevideo e seguimos para o Hostel Punto Berro, que fica numa área nobre da cidade (me lembrou Ipanema- RJ), estávamos há algumas quadras do Parque Rodó, um dos lugares que por vezes concentrou manifestações enquanto os militantes estavam na luta pela legalização.

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Juan, proprietário do hostel, nos disse que a principal bandeira para a regulamentação foi tirar a erva da mão do narcotráfico, mas usuários eventuais ainda estão com dificuldades pois não querem se vincular e pagar uma mensalidade a um clube e nem plantar, então estão um pouco perdidos pois não há um local regulamentado para venda por enquanto, foi uma grande mudança que está sendo ajustada com o tempo e com a demanda de necessidade. Nos informou que a policia raramente é violenta e age de maneira abusiva, talvez a mídia tinha antes um papel mais conservador em todo processo.

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Em nossas andanças observamos pouquíssimas pessoas fumando maconha pelas ruas ou mesmo no parque. No dia seguinte fizemos uma viagem para uma cidade chamada Colonia Del Sacramento e lá finalmente flagramos alguns usuários e claro, fomos até eles para entender como está fluindo a regulamentação, disseram que estão com um pouco de receio para o cadastro de auto cultivo pois o governo teria seus dados e não confiam nesse atual e nem no próximo governo, não pretendem se regularizar. Salientaram seu fascínio por Pepe Mujica e que tiveram muita sorte em tê-lo no poder, contudo ele é único e não acreditam que haverá outro em qualquer parte do mundo.

Seguindo a trip e distante aproximadamente uma hora e meia de Montevideo, na Playa Pascual, encontramos uma família incrível cheia de amor e hospitalidade que cultiva seus 6 pés de fêmeas e alguns machos para produzir sementes e poder manter o ciclo de cultivo legal. Foi um encontro realmente muito lindo e um imenso prazer termos sido tão bem recebidos.

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imageTania me apresentou seus filhos, Emiliano e Franchesca, sobrinha Elaia, marido Walter, cachorros e diversas plantas no quintal, me apresentou seu cultivo sem pesticidas, inseticidas, suas plantas orgânicas que somente precisam do sol para crescer.

Há muitos anos não usam maconha proveniente do tráfico e me relataram algumas denuncias que sofreram e então a policia não sabiam como agir, já que havia mudado a legislação para auto cultivo, as autoridades lucidamente resolveram dar um prazo para que se regularizassem, seu esposo fez os tramites e relatou não ter encontrado nenhuma burocracia e agora podem ficar tranqüilos com os vizinhos infelizes que estão espalhados por todo mundo…

Raquel Peyraube que é assessora da Secretaria Nacional de Drogas no Uruguai (SND) me explicou que há um esforço para haver um protocolo de intervenção da policia, para que essas autoridades saibam como proceder após a regulamentação e se familiarizem com a nova legislação. Para casos medicinais a Universidade de medicina está promovendo estudos, mas estão em etapas de elaboração.

Nessas andanças de coletivos nos deparamos com um cartaz fixado no ônibus….

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Em principio me pareceu algo como redução de danos e informação para familiares de usuários, contudo enviei um email para eles e me responderam que são a favor de zerar o consumo, em seu site encontrei frases como “ ajudaremos a voltar aos princípios morais e usuários sempre tem comportamentos inadequados na sociedade”. Algo semelhante ao narcóticos anônimos mas de uma maneira um pouco mais taxativa ao invés de compreensiva, que deve funcionar para algum caso extremo de descontrole de uso da pasta base ou álcool mas certamente intolerante como bem mostra no cartaz um baseado, mesmo para fins terapêuticos. Vou sugerir à eles que minha mãe compartilhe a experiência de ter uma filha usuária !!!!

Me fizeram pensar que como aqui, para regulamentar, os uruguaios enfrentaram uma parcela poderosa e conservadora. Mesmo assim a regulamentação aconteceu, então … avante Brasil.

Continua…