Psicoterapia Assistida com LSD – Novos Estudos

por Fernando Beserra

Introdução:

Bons ventos para os pesquisadores de psicodélicos! E, principalmente, para todos os que sofrem e agonizam na ausência de plantas e substâncias que poderiam ajudá-los, mas que não podem ser utilizadas ou receitadas em decorrência de uma política de drogas tão ineficiente quanto estúpida. Os bons ventos derivam da publicação do primeiro estudo controlado sobre psicoterapia assistida por LSD após mais de 40 anos de obscurantismo sobre o tópico.

O psiquiatra suíço Peter Gasser, presidente da Sociedade Médica Suíça para a Terapia Psicolítica (SAePT), foi o responsável pelo projeto, que recebeu financiamento do Multidisciplinary Association for Psychedelics Studies (MAPS) e da SAePT, mensurou o impacto do psicoterapia assistida de LSD em 12 pessoas em tratamento com ansiedade e com doenças terminais, especialmente câncer terminal.

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O estudo foi finalmente publicado em 2014 no The Journal of Nervous and Mental Disease no artigo denominado: “Safety and efficacy of lysergic acid diethylamide-assisted psychoterapy for anxiety associated with life-threatening diseases”. A pesquisa, conduzida na Suíça, foi realizada utilizando metodologia tradicional duplo cego, randomizada e com placebo (metodologia positivista contemporânea).

As pesquisas com LSD não são propriamente uma novidade e tampouco privilégio da classe médica. Na década de 60, um dos principais nomes desta pesquisa foi o psicólogo Timothy Leary, que conduziu e influenciou pesquisas que merecem a máxima credibilidade, notadamente para a prática da psicoterapia assistida do uso de LSD (e psilocibina), voltada não apenas para casos de transtornos mentais e comportamentais, mas igualmente como forma de expansão da consciência. Explorou a sua importância, igualmente, em prisioneiros e conseguiu resultados espantosos nos quais constatou-se que após o uso do LSD, realizado por estudantes e professores da Universidade de Harvard, a maioria dos detentos deixou de cometer crimes quando em liberdade. Influenciou o estudo de Walter Pahnke, o conhecido: “Good Friday Experiment”, onde o psiquiatra Pahnke analisou a ocorrência de estados religiosos genuínos, em um ambiente religioso, catalisado pelo uso de psilocibina, com resultados surpreendentes. Após o LSD se tornar ilícito nos EUA, em 1966, as pesquisas declinaram muito, embora seu uso em psicoterapia tenha continuado na Holanda, na Alemanha e na Checoslováquia na década de 70 e na Suíça entre 1988 e 1993 (GASSER e outros, 2014). Só no final da década de 70 a “criança problema” do químico suíço Albert Hoffman foi inclusa nas convenções internacionais oriundas da “Convenção Única sobre Entorpecentes”, de 1961. Igualmente, o uso de LSD já serviu há uma variedade de propósitos como para tratamento de dependências, sociopatia, “desvios sexuais”, ansiedade em pacientes terminais.

A Pesquisa

Onze dos doze participantes nunca haviam utilizado LSD antes da pesquisa. Como critérios de inclusão/exclusão, previu-se a rejeição de voluntários como dependentes de álcool e outras drogas (exceto cafeína ou nicotina), pacientes com transtorno bipolar, dissociativos, psicóticos e mulheres gravidas. Antes da realização da pesquisa, todos obtiveram resultados elevados em uma escala de ansiedade e metade dos voluntários foram diagnosticados com transtorno de ansiedade generalizado.

blogAntes do início das sessões com LSD, todos os participantes participaram de sessões de psicoterapia preparatórias. Posteriormente, oito participantes participaram de duas sessões com 200ug de LSD, enquanto 04 receberam placebo (20ug de LSD) e ambos os grupos participaram de sessões de psicoterapia sem substância. O setting foi cuidadosamente preparado (o ambiente de uso pode ser visto em vídeo no MAPS, cf. referências no final do texto) e os participantes da pesquisa foram orientados a não conversarem no período inicial com os terapeutas, que os acompanharam ao longo de 08 horas dos efeitos do LSD.

Obviamente que há um limite na metodologia de placebo com psicodélicos. Timothy Leary em Flashbacks já indicava o quão ridículo foi esta metodologia no estudo de Pahnke. O modelo placebo adotado nesta pesquisa já é um grande avanço, pois usa o próprio LSD como placebo em quantidade muito inferior. No entanto, o próprio Gasser fala em entrevista, disponível no MAPS, que obviamente o terapeuta e o participante da pesquisa após breve período sabiam se era ou não placebo o que fora oferecido.

Resultados:

A pesquisa foi bem-sucedida, a começar pela sua segurança. Nenhum paciente teve, em nenhuma das 22 sessões de psicoterapia assistidas com LSD (e 08 com 20ug de LSD), problemas que pudessem ser identificados em decorrência do uso do LSD. Em segundo lugar, pela melhor dos quadros e pela estabilidade dos efeitos. A comparação entre os grupos, identificou que o grupo que recebeu 200ug de LSD teve melhores resultados na redução da ansiedade do que o grupo que recebeu placebo (20ug de LSD).

Quanto aos resultados, talvez mais importante que os instrumentos de avaliação de qualidade de vida utilizados, que podem ser influenciados de maneira bruta pelo estado de saúde do paciente (pioras nos sintomas das doenças, p.ex), são os próprios relatos. Individualmente, todos relataram reportaram benefícios da psicoterapia assistida com LSD.

Por fim, sugiro fortemente aos leitores deste post, a excelente texto do Blog do Projeto “Plantando Consciência”, tratando da mesma temática deste post aqui do Portas da Percepção, do site Hempadão.

Mais informações:

Do Hempadão:

http://hempadao.blogspot.com.br/2013/02/breves-palavras-sobre-o-uso-terapeutico.html

http://hempadao.blogspot.com.br/2012/11/lsd-no-tratamento-do-alcoolismo-portas.html

Do Plantando Consciência:

http://plantandoconsciencia.org/novoblog/2014/03/06/o-retorno-lsd/

O artigo mencionado (completo):

http://journals.lww.com/jonmd/Documents/90000000.0-00001.pdf

MAPS:

Video com o pesquisador: http://www.maps.org/videos/source/video5.html

– Ambiente de uso do LSD em 12min e 51seg. do vídeo.