Teri Suzanne Krebs
Tradução de Fernando Beserra
Lancet Psychiatry Vol 2, Abril 2015, p. 294
Em um comentário recente Ben Sessa (1) explicou como a Guerra às Drogas pelo mundo impediu o desenvolvimento do tratamento psiquiátrico com psicodélicos como LSD (dietilamida de ácido d-lisérgico) e psilocibina (encontrada nos cogumelos mágicos). A proibição também teve resultados negativos para milhões de indivíduos que acreditam valer a pena utilizar psicodélicos em vários ambientes culturais fora daqueles da clínica.
Pessoas têm usado psicodélicos na prática espiritual por, ao menos, 5.700 anos, pré-datando todas as religiões organizadas (2). Cem anos atrás membros de grupos religiosos rivais realizaram campanhas contra o uso Nativo Americano de psicodélicos como o cacto peiote (2). No entanto, na década de 1950, cientistas preocupados usaram evidências e argumentos de direitos humanos para defender os usuários de peiote, levando a exceções legais para grupos específicos (2). Quando os psicodélicos alcançaram a sociedade maior nos 1960s, este também foi conhecido por pesquisadores das religiões e governantes como movimento espiritual (eg. The UK Home Office – 3).
Nos termos da Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas da ONU de 1971, a Organização Mundial da Saúde teve a responsabilidade de avaliar a política internacional para as substâncias psicodélicas. Avaliação original da OMS considerou que os psicodélicos: “geralmente são usados na esperança de induzir uma experiência mística levando a um maior entendimento, pelos usuários, acerca dos problemas pessoais e do universo” (4). A avaliação da OMS não citou um único exemplo de dano que ocorra naturalmente de psicodélicos como psilocibina ou peiote e citou apenas um punhado de anedotas relacionadas ao LSD (4). Essa não foi, de forma alguma, uma avaliação de danos baseada em evidências.
Nos últimos 50 anos pensa-se que as pessoas usaram, ao menos, meio bilhão de doses de drogas psicodélicas. Cogumelos com psilocibina e outros psicodélicos são vendidos legalmente na Holanda. Baseado em extensivas experiências humanas é geralmente conhecido que os psicodélicos não levam a adição ou uso compulsivo e há pouca evidência para uma associação entre uso de psicodélicos e defeitos de nascença, dano cromossômico e transtorno mental duradouro ou efeitos tóxicos ao cérebro ou outros órgãos (2). Embora os psicodélicos possam induzir confusão temporária e tumulto emocional, hospitalizações e danos sérios são extremamente raros (2). De forma geral, psicodélicos não são particularmente perigosos quando comparados com outras atividades comuns (2).
Em 2016 a ONU terá um encontro especial em Nova York para definir o futuro da política internacional sobre drogas. O ex-Secretário Geral da ONU, Kofi Annan e a Comissão Global de Política de Drogas, dizem que nós devemos: “Certificar que as convenções internacionais sejam interpretadas ou revistas para acomodar… políticas de descriminalização e regulação” (5). Políticas nacionais e internacionais devem respeitar os direitos humanos de indivíduos que escolhem usar psicodélicos como atividade espiritual, cultural ou para o desenvolvimento pessoal.
Eu sou líder do conselho da EmmaSofia, uma organização sem fins lucrativos localizada em Oslo, Noruega, trabalhando para aumentar o acesso de MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina) de qualidade controlada e psicodélicos. Eu recebi fundos do Conselho de Pesquisa da Noruega (grant 185924).
REFERÊNCIAS
1. Sessa B. Turn on and tune in to evidence-based psychedelic research. Lancet Psychiatry 2015; 2: 10–12.
2. Krebs TS, Johansen PØ. Mental health and suicidal behavior in psychedelic users: A population study. J Psychopharmacol 2015; 29: 270–79.
3. Home Office, Department of Health and Social Security. The amphetamines and lysergic acid diethylamide (LSD). Report by the Advisory Committee on Drug Dependence. London: Her Majesty’s Stationery Office, 1970: 29–36.
4. Isbell H, Chrusciel TL. Dependence liability of “non-narcotic” drugs. Bull World Health Organ 1970; 43: 5–111.
5. Global Commission on Drug Policy. Report of the Global Commission on Drug Policy 2011.
http://www.globalcommissionondrugs.org/ wp-content/themes/gcdp_v1/pdf/Global_ Commission_Report_English.pdf (accessed Feb 1, 2015).
Deixar um comentário