O papel do Diálogo

por Thalita

Um dos aspectos que nos mais diversos meios e grupos tem sido um destaque, é a questão da intolerância. De todas as formas vemos essa palavra ser empregada em discussões que não necessariamente conduzem à solução dos problemas, mas que revelam sempre opiniões vis e ofensivas e que, acima de tudo, nos mostram como nossos pensamentos continuam a ser mantidos na superficialidade do senso comum. Mas o que tem isso a ver com a coluna?

Sempre que eu entro para ver um debate sobre a descriminalização das drogas, ou maconha, ou qualquer outro tema afim, me deparo com a enxurrada de críticas aos “drogados”, “viciados”, “maconheiros burros” e etc e comentários acerca da violência como essas pessoas devem ser tratadas, ou destratadas em nome de um mundo melhor. É claro que essas pessoas não sabem do que estão falando, mas por isso elas desconsideram que o tratamento em relação à dependência química ou mesmo a possível convivência com o usuário seja possível, o que convenhamos, nem precisamos questionar aqui. O problema é que, além de essas pessoas normalmente não buscarem as informações de forma neutra, elas são contaminadas com a réplica do usuário que também não sabe do que está falando e acaba por estimular quem já estava convencido a ser ignorante.

Seja sobre qualquer assunto, é essencial que antes de colocarmos nossos argumentos contra outro, tenhamos consciência e paciência, pois nem sempre as pessoas estão abertas, principalmente em relação às drogas. É preciso entender que muitas famílias destruídas acabam por condenar o uso de drogas sem aprofundar suas análises em seus próprios problemas, sem olhar com o terceiro olho e é esse um dos fatores que mais implicam uma realidade cruel como a de hoje, onde a violência, a falta de compaixão e a crítica deliberada fluem sem que as pessoas pensem no que estão falando, somente desejando o mal, “sem querer desejar”.

Hoje me deparei com um depoimento de uma mulher que afirmava que sua família havia sido destruída, pois seu irmão havia usado LSD. Segundo ela, ele pirou e depois de vários problemas citados, ele ainda continua (mesmo internado em clínica) gerando problemas, “se machuca”, faz mal aos outros e etc. Essa é uma história clássica, principalmente envolvendo clínicas de reabilitação, em que o verdadeiro vilão é o usuário e a droga, mas ninguém nunca assume que aquela pessoa possui um problema maior. Sem falar das clínicas que atuam hoje fazendo esse tipo de propaganda, afirmando que a droga é a inimiga da sociedade, mas sem nenhuma comprovação acadêmica ou dado que especifique sua autoridade no assunto.

Depois de analisar diversas discussões, observei que um dos maiores problemas da falta de informação com relação ao mundo das drogas é que, além de as pessoas não entenderem muito do assunto, e algumas se deixarem levar por experiências mal sucedidas e mal interpretadas, – como “ah, meu vizinho usou droga e ficou louco” – e claro, além das lavagens cerebrais que são feitas com discursos conservadores, poucos são os que realmente intencionam passar adiante o conhecimento que tanto levou para chegar até eles mesmos. Isso significa que, mesmo que você não seja um especialista em farmacologia ou ciências, temos hoje diversas maneiras de mostrar que os nossos conhecimentos tem aval científico em todo o mundo e isso nos permite provar que a nossa bandeira tem não uma, mas várias causas.

Hoje temos vários maneiras para reciclar nossos conhecimentos e confrontar os estigmas que estão instalados na mentalidade geral. Quem achava ontem que maconha era a erva do diabo, hoje a utiliza para amenizar suas dores. Discutir faz parte da nossa evolução como ser humano, da construção de uma sociedade mais completa e justa, mas é claro que somente se as duas partes conseguem prosseguir lucrando com informações ainda não recebidas. Somente assim podemos solucionar nossos problemas sociais em vez de simplesmente adotarmos uma postura de aversão ao caretismo. É difícil, mas chegaremos lá.