Não se constrói a paz com a guerra às drogas

Não foi uma semana fácil no Rio de Janeiro, especialmente para os moradores do Complexo do Alemão. Na semana que passou 6 pessoas foram baleadas na comunidade; 4 morreram, inclusive Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos. O “dono” das balas mortais ainda é um mistério. Moradores acusam a polícia; a polícia acusa traficantes locais.

Nesse caos de informações frágeis e derreamento de sangue pouco se fala sobre a raiz do problema: a guerra às drogas.

As organizações criminosas se fortaleceram e dominaram o Alemão beneficiadas pela proibição das drogas. A polícia precisou “pacificar” a favela no contexto de combate as quadrilhas que vendem drogas. Décadas depois, a “pacificação” chegou com violações de diretos, impondo uma rotina militar para o morador da favela. Naturalmente criou-se um desgaste polícia x moradores. Inocentes mortos por um tiro da arma de um PM aumentam ainda mais essa tensão.

O governador do Rio fala em reocupar o Alemão, fingindo não saber que está repetindo uma “solução” que já deu errado. Fica cada vez mais claro que não basta encher as favelas de policiais e dizer que agora “o Estado manda ali”.

Apesar de pouco dito por governantes e meios de comunicação de massa, tudo isso tem relação direta com a guerra às drogas. Qualquer medida ou “solução” que ignore essa questão está condenada ao fracasso. A sonhada paz nas comunidades não sera imposta com o uso da força policial, tanques de guerra e propaganda da televisão.

Defender a guerra às drogas é defender uma guerra eterna e sem solução. Cidadãos e governantes tem o direito de dizer que são “contras as drogas”, mas investir em políticas mundialmente fracassadas com um argumento decrépito de “acabar com as drogas” é, no mínimo, desumano, com quem vai ficar no meio deste tiroteio.

Não acredite em qualquer discurso de pacificação que não paute o fim da guerra às drogas.