Jonathan Ott – Um pouco da História da Enteogenia!

por Fernando Beserra

Salve galera,

Vamos apresentar hoje um dos mais citados autores aqui da coluna Portas da Percepção, estamos falando do visionário Jonathan Ott. Nascido em 1949 nos EUA, Ott formou-se em Química Orgânica na Universidade de Washington. Na década de 60, conheceu os enteógenos, nome que iria cunhar em 1979 junto a outros pesquisadores, através do uso pessoal do LSD.

Em pouco tempo, mais especificamente em 1974, conheceu e em breve se tornou aluno de um dos mais famosos e importantes pesquisadores da enteogenia, o etnobotânico (e ex-banqueiro), Robert Gordon Wasson.

Ott publicou diversos livros, sendo o mais importante, a conhecida bíblia dos enteógenos, publicado em 1993: o Pharmacotheon. Mas este certamente não é o único livro importante do pesquisador, ativista e visionário.

Em 1985 publicou o Cacahuatl eater para falar sobre a história do cacau, na qualidade de fármaco e seu nexo com os enteógenos. Nas Américas, diz Ott, em uma entrevista à Juanjito Piñeiro no livro “Psiconautas: exploradores de la consciencia”, que o cacau, cacáhuatl, na Mesoamérica, é análogo à ayahuasca na Amazônia, é uma “poção base” para administrar a todo tipo de medicamentos, para cura ou experiências visionárias.

Em 1994 escreveu Análogos da Ayahuasca. O objetivo expresso de Ott era a questão do acesso a experiência enteogênica/ ayahuasqueira, que é dificultado em países onde não existem os ingredientes tradicionais da ayahuasca, como os países europeus, bem como a questão do abastecimento. Como forma de incentivo a manutenção de plantas consideradas sagradas, Ott acha fundamental o pequeno mercado de plantas visionárias que existe hoje espalhado pelo globo, assim como toda expertise ganha nas técnicas de cultivo e processamento (que os leitores facilmente associarão às técnicas surgidas no desenvolvimento do auto-cultivo da cannabis).

Ott não foi apenas um grande enciclopedista dos enteógenos, mas um dos grandes criadores de termos (e substâncias) que hoje conhecidas que não sabemos a origem. Destaca-se não apenas a palavra “enteógenos”, mas também pharmahuasca (modelo farmacológico da ayahuasca com compostos puros com B-carbolinas e triptaminas). A pharmahuasca pode utilizar no lugar da Dimetiltriptamina (DMT) a 5-metioxi-DMT, que é cinco vezes mais potente que o DMT utilizado nas poções tradicionais da ayahuasca, sendo lícita na maioria dos países do globo terrestre. Ott também criou os termos “Reforma enteogênica” e “idiossincrasia bioquímica” e “chauvinismo farmacológico”

A ideia de Ott é que está ocorrendo uma Reforma Enteogênica, uma espécie de re-conexão as raízes humanas e nexo com as tradições espirituais. Para Ott isso implica em sair de dogmas super rígidos e encarar novamente a experiência direta com a divindade. É preciso sinalizar que Ott critica veementemente as formas tradicionais de religião como sacramento placebo. O estadunidense chega a falar que vê os enteógenos como “anticorpos do ecossistema contra o câncer do materialismo”. O visionário se posiciona contrário a defesa de um único enteógeno, mesmo quando nosso organismo se dá bem apenas com um. P.ex, não é porque só nos damos bem com a maconha que não podemos entender o uso de distintas substâncias por outras pessoas e a importância para elas deste uso. Cada pessoa, diz Ott, é um “fenótipo único, com taxas variáveis (e plásticas) de enzimas chaves, neuroreceptores, sem falar do substrato anatômico. Por tanto, cada qual varia em suas reações a qualquer alimento ou fármaco”, é o que chama de idiossincrasia bioquímica. O gosto pelos enteógenos, pode-se comparar, é como o gosto pela comida. Alguns preferem café, outros ayahuasca e outro ainda maconha. É claro que o uso individual e coletivo são mediados pela cultura, tanto a cultura ampla de uma sociedade que estimula determinados usos de droga, como sub-culturas.

Apesar disto, a sociedade normalmente não reconhece a diferença existente entre indivíduos e sub-culturas, marginalizando os que não aderem ao comportamento esperado. No âmbito de consumo de psicofármacos, isto resulta no chauvinismo farmacológico.

Agora galera: Eu, como bom admirador do camarada, já traduzi um número razoável de materiais dele. Seguem alguns exemplos para a galera que curtiu:

Entrevista com Ott
Terminologias
História natural e química do ololiuhqui
Salvinorina A e Ska Pastora
Sobre análogos da Ayahusca (não é do Ott)
Origem do termo enteógeno